Abstract
Selon Hannah Arendt rien ne sépare plus l'époque actuelle des époques précédentes que l'élimination de la vie publique, vers le XVIII° siècle, de la croyance au Jugement Dernier et aux peines de l'enfer. Il faudrait pouvoir évaluer les conséquences politiques d'une telle disparition, soit à l'occasion du totalitarisme du XX° siède, soit à l'occasion d'une réflexion sur la perte de l'autorité au sens romain. Mais il faut aussi pouvoir comprendre, en sens inverse, comment les récits et les mythes des récompenses et des peines se sont développés à deux moments décisifs de notre tradition politique. D'abord à son tout début, Platon les admet lorsqu'il découvre, politiquement, son impuissance à faire obéir les hommes qui ne sont pas sensibles à la lumière du vrai. Second moment décisif celui où l'Église romaine reprend au début du IV° siècle l'héritage de l'Empire romain et se charge bon gré mal gré de responsabilités politiques. Se trouvant dans une Situation similaire à celle du philosophe Platon, le père de l'Église Augustin développe également l'argumentation en faveur des peines de l'enfer. Une relecture de Platon et de La Cité de Dieu d'Augustin permet de détailler et de confirmer ces vues. Mais qu'en est-il à l'époque moderne, où ces croyances ont certes disparu en Ocddent, rétablissant ainsi la politique dans sa nudité, mais où elles animent d'autres dvilisations, nous faisant prendre consdence du caractère partiel de nos positions modernes, et donc d'une nouvelle diffculté du "vivre ensemble" ? /// Segundo Hannah Arendt, nada separa mais a época actual das épocas precedentes do que a eliminação da vida pública, por volta do século XVIII, da crença no Juízo Final e nas penas do inferno. Seria necessário poder avaliar as consequências políticas de um tal desaparecimento, seja por ocasião do totalitarismo do século XX, seja por ocasião de uma reflexão acerca da perda da autoridade no sentido romano. Mas é necessário também poder compreender, no sentido inverso, como é que as narrativas e os mitos das recompensas e dos castigos se foram desenvolvendo em dois momentos decisivos da nossa tradição política. Em primeiro lugar, logo no seu início, Platão admite-as ao descobrir, politicamente, a sua incapacidade em fazer obedecer os homens que não são sensíveis à luz da verdade. Segundo momento decisivo é aquele em que a igreja romana retoma no início do século IV a herança do Império romano e assume, com vontade ou sem ela, responsabilidades políticas. Encontrando-se numa situação similar à do filósofo Platão, o Padre da Igreja Agostinho desenvolve igualmente a argumentação em favor das penas do inferno. Uma releitura de Platão e da Cidade de Deus de Agostinho pennite detalhar e confirmar estas perspectivas. Mas o que é que acontece na época moderna, no momento em que estas crenças desaparecem no ocidente, reestabelecendo assim a política na sua nudez, mas em que elas animam outras civilizações fazendo-nos tomar consciência do carácter partial das nossas posições modernas, constituindo assim uma nova dificuldade para "viver juntos'?