Abstract
De meados do século XX e ao longo da primeira década do século XXI, a temática do bullying vem ganhando destaque crescente nos meios de comunicação de massa, entre familiares e entre os profissionais da saúde, da educação e da justiça que trabalham com segmentos infanto-juvenis e que são convocados a atuar em contextos educacionais e escolares. Tendo em vista a necessidade de um debate crítico a respeito desse efervescente tema, este artigo tem o intuito de apresentar conexões entre modos de operação do dispositivo-bullying e as estratégias de governamentalidade neoliberal articuladas a mecanismos de segurança na contemporaneidade. Para tanto, serão traçados diálogos com o pensamento arquegenealógico de Michel Foucault e suas ressonâncias em campos como a Psicologia e a Educação. Sob a referência foucaultiana, o reposicionamento do bullying como dado auto evidente para a condição de “dispositivo” implica pensá-lo como uma rede tecida entre elementos heterogêneos - discursos, instituições, regulamentações, leis e decisões administrativas, assim como enunciados científicos e proposições de ordem moral sobre a violência entre pares no contexto escolar/educacional. Para o alcance do objetivo proposto, o texto, em um primeiro momento, porá em análise a relação entre a consolidação da categoria bullying para dar conta de determinadas modulações de violência entre pares em contextos escolares/educacionais e a emergência das tecnologias biopolíticas de poder características dos dispositivos de segurança. Em um segundo momento, discutirá como certos modos de operação do dispositivo bullying tem oportunizado a intensificação de processos de judicialização da vida, caracterizados pelo enquadramento jurídico-legal cada vez mais minucioso e insidioso das relações sociais no cotidiano.