Abstract
Este estudo parte da interpretação de Foucault de que a patologização do jovem masturbador, em meados do século XVIII, teria tido um papel de destaque na construção do dispositivo da pedagogização do sexo. Além disso, o vínculo entre os conceitos de biopolítica e de dispositivo da sexualidade, nas páginas finais de A vontade de saber, serviu como um direcionamento importante rumo ao objetivo desta investigação: compreender as transformações das redes de sentido sobre a masturbação, ao traçar um paralelo entre o material didático publicado na década de 1990 e a bibliografia que relata as redes de sentido produzidas nos séculos anteriores. Para isso, eu analisei os textos dos livros didáticos de Ciências, segundo os preceitos dos conceitos de formação discursiva e de discurso elaborados por Foucault. O conceito de biopolítica, por sua vez, parte do pressuposto de que, a partir da modernidade, a categoria população se torna um operador teórico fundamental na interface poder/saber e que a sexualidade seria um dos aspectos que rege o funcionamento da vida da população. O sentido de normalidade atribuído à masturbação nas publicações analisadas está associado com a questão da saúde, e não de doença, o que demonstra uma mudança do regime de verdade no último século. Neste período, a formação discursiva da psicologia ascendeu como uma autoridade importante, ao atribuir um aspecto saudável ao sexo. A associação da masturbação com o corpo masculino foi relativizada, na edição de 1999, que acrescentou, além da perspectiva feminina, o aspecto histórico no processo de significação da prática.