Abstract
O texto discute o apelo de Foucault aos corpos e prazeres como instância de resistência aos efeitos do dispositivo da sexualidade. Primeiro, abordamos a descoberta foucaultiana do dispositivo da sexualidade. Depois, discutimos a análise de Judith Butler sobre o modo como Foucault retratou o caso de Herculine Barbin, tomando-o como estratégico para a sua própria crítica à concepção foucaultiana da resistência. Para Butler, ao recorrer aos corpos e aos prazeres Foucault entraria em contradição com sua própria análise genealógica, pois sua sugestão implicaria assumir a potência vital do corpo e do prazer como sendo anterior ou alheia ao dispositivo de poder-saber que produziu os sujeitos da sexualidade. No terceiro momento discorreremos criticamente sobre a análise proposta por Butler e argumentaremos que Foucault não tomou o caso de Herculine Barbin como modelo de resistência válido para nós, pois o entendeu como relativo ao dispositivo do poder pastoral. Finalmente, afirmamos que ao dissociar as práticas sexuais, os corpos e os prazeres do império do “sexo-desejo”, Foucault enfatizou o exercício de condutas sexuais como campo de experiências voltadas à transformação de si e dos outros, por meio da ampliação das relações entre os sujeitos.