Abstract
Nosso artigo irá avaliar a contribuição de uma teoria intensional para projetos de filosofia da ciência. Esperamos explorar o conceito de intensão, que fez parte da polêmica semântica do século XX, para discutir a natureza dos enunciados da ciência e suas diferenças de profundidade. Optamos por dar a seguinte forma à argumentação: almejamos apresentar indícios para a plausibilidade da tese de que as intensões contribuem para marcar diferenças de conteúdo preditivo das proposições. Argumentaremos que essas diferenças falham em ser avaliadas extensionalmente. Sugerimos explorar a diferença entre intensões carnapianas (Carnap 1891-1970) e millianas (Stuart Mill 1806-1873). A linha de contraste será traçada a partir dos problemas para os quais os autores elaboraram seu conceito: as primeiras para ampliar o universo extensional da interpretação com casos possíveis mapeados por um modelo (as quais chamaremos de extensionalidade estendida), e as segundas para resolver problemas de profundidade teórica, entendidos como questões de projeção e predição. A sequência do artigo avalia o desafio de Quine à concepção carnapiana de intensão, e explora a seguinte opção: a de que uma versão profunda (milliana) do conceito de intensão e analiticidade não seria alvo da crítica de Quine. Passamos, por fim, por um exame de possíveis alinhamentos e alianças com o racionalismo crítico recente (David Miller, J. Watkins), para concluir que o universo da filosofia da ciência está aberto a discutir a contribuição de uma noção não-extensional de significação.