Abstract
Desde a publicação da Fábula das abelhas e sua fórmula vícios privados com benefícios públicos, Mandeville tem sido geralmente considerado como um autor que se deleitava com paradoxos, um mestre da ironia e do sarcasmo. Se ele realmente pretendia soltar as rédeas dos vícios privados – o "laissez faire" do capitalismo desenfreado –, se ele pensava que os pobres não deveriam ter acesso à educação, ou que a prostituição deveria ser institucionalizada, ainda é um assunto de discussão. Se o uso provocador dos paradoxos de Mandeville foi objeto de amplo escrutínio acadêmico, a relação autor-leitor que resulta desse modo de escrita paradoxal tem sido geralmente negligenciada. No presente artigo, desejo mostrar que Mandeville está menos interessado em convencer os leitores da validade de suas posturas morais – ou imorais – do que em guiá-los através do labirinto incerto e desconcertante do pensamento crítico e do autoconhecimento.