Abstract
O artigo analisa, a partir sobretudo do pensamento de Hannah Arendt, o desafio que representa para a política “viver junto”. Embora a expressão origine-se com o ensaísta francês Roland Barthes, o objetivo do artigo é quadruplo: (1) apresentar seu fundamento ontológico na condição humana ou existencial de “ser-com”, ou seja, de ser junto aos outros, pensada desde Martin Heidegger; (2) descrever seu sentido político pela conjugação entre isonomia e diferença na forma da pluralidade pela qual cada pessoa pode aparecer singularmente em atos e palavras, de acordo com uma liberdade frente a quaisquer predeterminações; (3) demonstrar como a recente situação da pandemia de Covid-19 radicalizou o impasse de viver junto – e separado – em sociedade, particularmente no caso do Brasil, colocando em relevo uma dimensão coletiva da liberdade pela interdependência entre os seres humanos; e (4) apontar a importância da forma de governo da república, mas também os perigos da sua fragilização nas democracias contemporâneas no que se refere à dificuldade de responder – como viver junto?