Guairacá 28 (1):09-25 (
2012)
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Abstract
O problema da relação entre sujeito e objeto em suas diversas instanciações – epistemologia, ética e metafísica – constitui um dos panos de fundo mais amplos da história da filosofia e deve ser visto como um dos problemas centrais que atravessa sua história. De Kant a Husserl e Heidegger, mas também Frege, Wittgenstein, Armstrong e Plantinga, as conexões entre os conceitos de sujeito e objeto nas diversas áreas de problemas apontados encontram muitas soluções e explicitações. Podemos dizer que a filosofia de Søren Kierkegaard (1813-1855) também pode, em grandes linhas, ser reconduzida justamente a tal – ou tais – problema(s). A perspectiva kierkegaardiana que parte da radicalização do estatuto ontológico do sujeito enquanto existente, leva às últimas consequências as categorias que conformam as experiências cognitivas, éticas e religiosas do sujeito. Isto significa que há dois eixos entrecruzados que determinam a abordagem do problema da relação entre sujeito e objeto: (a) se o sujeito, qua existente, está em devir, não é possível falar de uma identidade consigo próprio em sentido forte. Desse modo, qua existente, em sentido estrito, sua atividade epistêmica está condicionada pela temporalidade e a ela submetida. Portanto, não é preciso rever o sentido de refletir acerca do sujeito cognoscente a partir de categorias e determinações transcendentais (Kant) e/ou absolutas (Hegel)? Quais as determinações existenciais e subjetivas que condicionam o conhecimento objetivo? Quais os graus de objetividade e certeza possíveis a partir de tais determinações? (b) A estrutura das conexões entre certeza e/ou verdade objetiva e adesão e/ou conversão subjetiva parece ser de tal modo que a passagem de uma a outra não se dá de modo necessário: não é suficiente a garantia de certeza ou verdade para que haja uma aderência a paradigmas éticos ou sistemas religiosos de sentido. Qual a relação entre estas duas dimensões? Não haveria uma má compreensão de “a”, que termina por gerar uma preocupação demasiada com o papel ou o “lado” da objetividade nesta relação? Se há um gap entre as duas dimensões, não seria preciso introduzir algo como a categoria de Salto (epistêmico)? Qual o papel da decisão (subjetiva) neste panorama? O que intentamos aqui é (1) apresentar o problema existente entre na relação entre conhecimento objetivo e decisão subjetiva, mais propriamente entre certeza ou verdade e aderência ou conversão subjetiva. Explicitaremos topicamente as asserções constituintes do problema para então (2), investigar uma solução possível às questões levantadas tendo como horizonte o tratamento destes problemas por Kierkegaard.