Abstract
Nesse artigo tratamos do niilismo como experiência existencial fundamental e não apenas como diagnóstico de uma época histórica. Investigando a compreensão do niilismo como diagnóstico para a contemporânea desvalorização dos valores supremos cultivados e cultuados pelo ocidente, vimos que essa compreensão histórica do niilismo pode ser ela própria historicizada. Assim, tal caracterização do niilismo aparece como modo de pensamento próprio da concepção de tempo vigente no século XIX. O historicismo próprio ao século XIX atinge seu auge no pensamento heideggeriano do Ser. Restringindo qualquer possibilidade de referência ao ente a um horizonte histórico de significabilidade e compreensibilidade, Heidegger apresenta o caso mais extremo daquilo que Meillassoux chamou de correlacionismo: a crença – de inspiração kantiana – de que não podemos nunca nos referir ao real. Mas na obra do próprio Heidegger, identificamos um elemento a-histórico, capaz de romper as barreiras do correlacioniso e reestabelecer nossa relação com o Real: o Nada. Exploramos os conceitos de angústia e Nada em articulação com o conceito psicanalítico de Real a fim de pensar o niilismo como experiência existencial fundamental capaz de revelar o Nada como mais fundamental que o Ser e a experiência de Haver Existência como Real.