Abstract
Após as Meditationes que tornaram conhecidas as raízes de sua metafísica, antes dos Principia que vão desenvolver sua física, Descartes desenvolve, com um interlocutor amigo e desconhecido, as “maneiras de falar”, as fórmulas técnicas mais bem adaptadas à nova filosofia em sua integralidade. Para Deus, o ser supremo, sua liberdade é indiferença, mas não poder de escolher entre contrários. E sua causalidade, como causa sui, causa de si, é inteiramente positiva, mas ela é causalidade formal e não eficiente. Quanto às coisas materiais cujo conjunto constitui o mundo, a causalidade é estritamente mecânica, tanto de Deus à máquina do mundo que ele criou, como causa eficiente e total, de uma única e mesma matéria, quanto entre esses corpos e seus movimentos que são causas segundas uns dos outros. O conjunto dessas fórmulas corrigidas sinaliza o que chamaremos de ontologia, um termo ainda ausente em Descartes, mas que é generalizado depois dele. Nós nos propomos mostrar a ontologia cartesiana a partir do comentário de uma carta importante de Descartes (AT V 545-546).