Abstract
O presente texto discute a ética do cuidado sob a ótica da amplitude prática de seu escopo. Carol Gilligan e, principalmente, Nel Noddings, são apresentadas como defensoras da tese segundo a qual o cuidado exige uma espécie de conexão ou encontro pessoal entre as partes envolvidas, sendo, desse modo, inerentemente “pessoal” e “parcial”. A posição de Cláudia Card é apresentada como crítica dessas teses, especialmente pela lacuna de tal modelo quanto às pessoas que jamais estarão diretamente ligadas a nós, mas que nem por isso deixam de demandar nosso engajamento moral – exigem, portanto, da ética, um espaço destacado para a justiça e para os princípios impessoais. Algumas ideias de Abraham Maslow e Betty Friedan são apresentadas como meios de se avançar nesse impasse, em especial a partir da concepção das chamadas “metamotivações” ou “metanecessidades”, caracterizadas como a abertura da possibilidade, na personalidade da pessoa moral, de se sentir “conectada” com certos bens “abstratos” e distantes de si, como os englobados pelas éticas de princípios.