A finalidade do texto seguinte consiste na exposição de uma relação de promiscuidade entre a técnica e a ciência na obra de Jean-François Lyotard. A primeira etapa deste artigo consiste na apresentação de um problema referente à obra A condição pós-moderna, onde a noção de técnica aparece sobre uma perspectiva positivista. Aqui, a intimidade entre técnica e ciência é resultado da crise dos fundamentos das ciências na modernidade, crise oriunda do afastamento entre as ciências e os discursos que se prestavam (...) frequentemente à sua legitimação. Esses discursos, que Lyotard aproxima do modelo narrativo, e dos quais se destacam o discurso político de emancipação e o discurso filosófico especulativo, entram em declínio na condição pós-moderna. As ciências, desprovidas de motivações ou destinos humanistas, não resistem à lógica capitalista, e encontram o intermediário de sua relação com o capital na técnica. O critério da ciência deixa, pouco a pouco, de ser a busca pela verdade e passa a ser a busca pelo melhor desempenho. A segunda e conclusiva etapa do artigo, consiste, por sua vez, na radicalização dessa promiscuidade, e se refere principalmente ao livro O inumano. A assim chamada tecnociência corresponde à completa submissão da ciência à técnica: se a visão positivista de A condição pós-moderna vê na técnica um suplemento, uma prótese que dá assistência à pesquisa científica, no segundo livro, a ciência se mostra a prótese ou o suplemento da técnica, que se revela, não obstante, inumana. Nessa segunda parte do artigo, pretendo mostrar que a visão positivista da técnica não é, portanto, suficiente para compreender a relação promíscua que ela tem com a ciência, mostrando-se necessário o recurso à perspectiva clássica da mesma: é a partir da visão da técnica como produtividade cega da physis que alcançamos também o entendimento do caráter inumano da tecnociência. (shrink)

L’intérêt et l’originalité de l’humanisme merleau-pontien consiste à mes yeux dans sa mise en lumière du dévoilement de l’origine refoulée de l’homme dans le registre de l’art et de l’expression du corps en général. Merleau-Ponty a su percevoir exemplairement ce mouvement de récursion vers l’inhumain dans l’oeuvre de Cézanne. « Je vous dois la vérité en peinture disait Cézanne ». Cézanne nous donne en effet la vérité de l’hominisation en peinture. Nul mieux que Merleau-Ponty nous permet d’entendre encore aujourd’hui la (...) voix de Cézanne. Il nous permet de fonder sur l’écho de cette voix un nouvel humanisme, un humanisme qui garde en mémoire l’inhumain, qui lève le refoulement mais sans le supprimer, tout comme l’artiste présente l’invisible du visible et tout comme le philosophe décrit la profondeur de l’être. Cet humanisme de la surrection est celui de l’apparition de l’homme à lui-même dans la constellation hasardeuse des signes et dans l’adversité du non-sens, à égale distance de l’humanisme sans vergogne des aînés de Merleau-Ponty et de l’antihumanisme postmoderne de ses cadets.The interest and originality of Merleau-Ponty’s humanism lie, in my view, in the unveiling of the repressed origin of humanity in the domain of art and the expression of the body more generally. Merleau-Ponty was able to perceive an example of this recursive movement toward the inhuman in Cézanne’s works. “I owe you the truth in painting,” said Cézanne. In effect, Cézanne gives us the truth of humanization in painting. None better than Merleau-Ponty allows us to hear Cézanne’s voice today. Through the echo of this voice, he allows us to found a new humanism, a humanism that bears the memory of the inhuman, that lifts up the repressed but without effacing it, all while presenting us with the invisible in the visible and exposing the profundity of the human being. This humanism of upheaval is that of the appearance of humanity to itself in a hazardous constellation of signs and in the adversity of non-sense set in equal distance from the shameless humanism of Merleau-Ponty’s predecessors and the postmodern antihumanism of those who came after him.L’interesse e l’originalità dell’umanismo merleau-pontyano consiste ai nostri occhi nella sua capacità di disvelare l’origine rimossa dell’uomo nella dimensione dell’arte e dell’espressione corporea in generale. Merleau-Ponty ha saputo percepire esemplarmente questo movimento di ritorno e di ricorso all’inumano nell’opera di Cézanne. “Je vous dois la vérité en peinture”, affermava Cézanne. Egli ci restituisce, in pittura, la verità dell’ominazione. Ancor oggi nessuno meglio di Merleau-Ponty ci consente di intendere la voce di Cézanne. Merleau-Ponty ci consente di fondare sull’eco di quella voce un nuovo umanismo, un umanismo che conserva memoria dell’inumano, che innalza il rimosso senza sopprimerlo, proprio come l’artista presenta l’invisibile del visibile, e il filosofo descrive la profondità dell’essere. Quest’umanismo della “surrezione” è l’umanismo dell’apparizione dell’uomo a se stesso nella costellazione aleatoria dei segni e nell’avversità del non-senso come rimosso, un umanismo che si pone a uguale distanza dall’umanismo senza vergogna dei predecessori di Merleau-Ponty e dell’anti-umanismo postmoderno dei suoi successori. (shrink)

A pandemia do novo coronavírus oferece um desafio ao pensamento: pensar a disrupção nos assuntos humanos causado por um agente inumano. Nossa capacidade coletiva de lidar com o problema dependerá dos enquadramentos conceituais que seremos capazes de mobilizar. Esse breve ensaio, busca analisar a metáfora da guerra e sua pertinência epistêmica, abordando tanto os discursos a mobilizam quanto as críticas que a rejeitam. Concluímos que a metáfora carrega um momento de verdade em sua forma, apesar do sinal trocado quanto (...) ao conteúdo. Se a guerra é uma suspensão temporária da lógica de acumulação pela lógica da destruição, sugerimos uma substituição da lógica da acumulação pela lógica do cuidado. (shrink)