Abstract

As vidas e doutrinas dos filósofos ilustres de Diógenes Laércio é uma das obras monumentais da filosofia antiga, fonte inestimável de informações biográficas e doutrinais. Durante um certo período, pouco valor foi atribuído à obra, pois Diógenes Laércio era considerado alguém sem maior capacidade para compreender as doutrinas, que possuía o hábito desagradável de compilá-las sem ordem, as doutrinas, e afeito a anedotas desinteressantes. Diógenes é comumente apresentado como um grande erudito, apaixonado pela filosofia, mas que copia sem compreender o que copia, ao qual se deve atribuir uma confiança limitada. Estudos contemporâneos mostram, entretanto, que este ponto de vista deve ser corrigido, a partir da análise da estrutura do texto das Vidas, embora as escolhas que fazia ao reorganizar as obras as quais compilava ainda cause desacordo, seja no que diz respeito ao alcance, seja no que diz respeito à significação destas escolhas. Duas linhas interpretativas podem ser identificadas : uma deflacionista, outra inflacionista. A intenção deste artigo é testar a validade da interpretação inflacionista, sendo que a investigação concernirá a duas questões principais: 1) o texto mostra os traços da personalidade do autor?; 2) o texto é fruto de uma concepção particular acerca da história da filosofia?