Dialética do recomeço: Mendelssohn e a refundação moderna da metafísica como história da filosofia
Abstract
Este ensaio busca oferecer uma coleção de materiais historiográficos, em sua maior parte traduzidos do alemão, a bem da contextualização mais detalhada do papel de Moisés Mendelssohn no debate filosófico alemão da segunda metade do XVIII, em especial no que concerne à provável influência de suas reflexões em Kant e Hegel. Inicio com a consideração das novidades trazidas à tona por M. Serres no que concerne à interpretação de Leibniz, e o faço com o intuito de introduzir em sentido amplo a problemática da _característica universal_, que servirá de fio condutor neste percurso. Tal introdução me permite definir alguns dos termos mediante os quais observaremos o debate entre Kant e Mendelssohn, a começar com a análise de alguns aspectos do concurso sobre a cientificidade da metafísica proposto pela Academia de Ciências da Prússia em 1762, e em seguida com a observação, mesmo que sumária, de alguns outros momentos importantes do contato entre ambos os filósofos. Meu objetivo é ilustrar a posição mendelssohniana, mesmo que de maneira introdutória, no intuito de se lançar alguma luz sobre seu projeto crítico de impor limites à razão teórica da matemática clássica e à razão prática da mística cabalística – diapasão em que se exercita a mágica e o fascínio do ideário da característica universal – o que promete, por sua vez, iluminar tanto alguns aspectos fundamentais do projeto da _Crítica da Razão Pura_ de Kant quanto da _Ciência da Lógica_ de Hegel. À guisa de conclusão relatarei, mesmo que de maneira episódica e sumária, aspectos da _querela do panteísmo_ e indicaremos brevemente como Kant e Hegel, de maneiras opostas, a ela reagiram.