Abstract
O presente estudo revisa o conceito de performatividade desenvolvido nos estudos de Austin e Benveniste, e está dividido em três partes: a primeira é uma síntese crítica das contribuições desses autores, em que se enfatiza os pontos de concordância e discordância entre eles, e os aspectos problemáticos de seus respectivos pontos de vista; a segunda é uma releitura das conceituações, estruturações e problematizações apresentadas pelos autores, e uma proposta própria de compreensão da enunciação e da performance a partir das ideias de diálogo e modalização dialógica; a última corresponde à aplicação dessa proposta teórica ao ritual do sacramento do matrimônio. Na proposta teórica aqui apresentada, a enunciação é considerada como uma relação contratual entre os interlocutores, em que o enunciado figura como seu objeto, e a performatividade, isto é, a caracterização daquela como enunciação-ação, é compreendida como um tipo específico de modalização, denominada entrelocutiva, que se caracteriza pela aposição de um segundo objeto entre os interlocutores, imbricado e comunicado pelo primeiro: o entreposto. O discurso da cerimônia nupcial, por sua vez, é caracterizado pela prolocução, isto é, pela cisão do locutor/enunciador em um Eu-mandante (Eu-Outro) e um Eu-procurador (Eu-Mesmo), e pela translocução, isto é, pela justaposição do alocutário (Tu) e do delocutário (Ele) na posição de enunciatário.