Nietzsche e a exigência de uma filosofia retoricamente consciente

In Helcira Maria Rodrigues Lima & Maria Cecília Miranda N. Coelho (eds.), Percursos Retóricos: antigos e contemporâneos. Pontes Editores. pp. 411-436 (2023)
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Abstract

Nietzsche mobiliza recursos retóricos de natureza heterogênea em sua obra, que podem ser distribuídos em pelo menos quatro grandes rubricas: elementos que (1) incidem sobre a materialidade sonora e rítmica da linguagem (dimensão expressiva associada à prova ética); (2) orientam a adoção de um conjunto de estratégias argumentativas que variam conforme as necessidades filosóficas do momento (dimensão argumentativa ou dialética); (3) dizem respeito a escolhas relativas à forma de apresentação dos argumentos, ou à sua inserção no interior de diferentes gêneros literários (aqui vale a tese do pluralismo defendida por Nehamas, pois Nietzsche explora as potencialidades de diferentes formas de apresentação para as suas ideias, sendo a principal delas um gênero híbrido que incorpora elementos do aforismo e do ensaio); finalmente, (4) retomam aspectos relativos à invenção (dimensão heurística do paradigma indiciário, com a valorização da inferência abdutiva). Neste artigo pretendo mostrar, através de uma caracterização sumária da prática discursiva de Nietzsche, assim como de uma rápida retomada de sua tematização da retórica, como essas diversas dimensões (expressiva, inventiva, argumentativa e expositiva) se integram em seu projeto filosófico, tornando-se uma parte constitutiva do mesmo. Essa leitura se contrapõe a uma tradição que nega relevância filosófica à dimensão retórica da obra de Nietzsche, relegando-a a uma suposta dimensão exotérica de seus escritos. Há formas implícitas e explícitas pelas quais um intérprete pode chegar a esse resultado. Dentre as formas implícitas de contornar o desafio retórico posto pela filosofia de Nietzsche, a mais célebre é a de Heidegger. Ela se funda em sua decisão filologicamente controversa, no limite indefensável, de conferir primazia aos póstumos em detrimento dos livros publicados pelo filósofo, que deveriam, segundo ele, ser tomados como fachada. Paul de Man representa a forma explícita dessa recusa, mas com resultados curiosamente próximos aos de Heidegger, ainda que movido por intenções filosóficas distintas. No presente ensaio recuso ambas as estratégias de evasão e procuro mostrar que os diversos aspectos retóricos presentes na obra de Nietzsche se integram de forma relativamente harmônica ao seu projeto filosófico de cunho perfeccionista.

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Rogerio Lopes
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L'Empire rhétorique: Rhétorique et argumentation.Chaim Perelman - 1980 - Philosophy and Rhetoric 13 (1):76-77.

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