Abstract
Escolher ou aceitar para uma aula inaugural o tema da pragmática transcendental como "filosofia primeira" poderia parecer totalmente anacrônico. Anacrônico, porque afinal vivemos no século XX, estamos acabando o século, e outros problemas parecem muito mais urgentes. Anacrônico sobretudo, porque quem hoje arriscaria tentar renovar na realidade atual a pretensão originariamente grega da filosofia comei "filosofia primeira", quando isso significa levantar a pretensão de conhecer a totalidade ontológica do real em termos de razão e, portanto, de razão essencialmente metafísica? Afinal, será que a filosofia, com a maturidade de seus quase vinte e seis séculos de existência, não estaria sentindo a saudade de suas origens? Não teríamos então que decretar também a morte da filosofia como "filosofia primeira" e voltar-nos para a grande complexidade da vida moderna e tentar humildemente reduzi-la, porque isso já seria uma grande conquista? E afinal, não é esse o sentir comum de hoje quando por toda parte se proclama o advento da pós-modernidade que, entre outras coisas, se deleita na desconstrução de toda uma cultura metafísica e universalista?