Teatro, um quadro das paixões humanas: crítica ao etnocentrismo, corrupção do gosto e degeneração dos costumes em Rousseau

Doispontos 16 (1) (2019)
  Copy   BIBTEX

Abstract

Na Carta à d’Alembert sobre os espetáculos, Rousseau responde às questões que aparecem no verbete Genebra, publicado no volume VII da Enciclopédia. D’Alembert fazia uma defesa da comédia e dos comediantes, vistos como socialmente inferiores, ao mesmo tempo em que propunha montar uma companhia de teatro em Genebra, o que ajudaria a educar o gosto dos cidadãos. Retomava, assim, o papel do teatro a partir da opinião aristotélica de expurgação dos sentimentos de terror e piedade, adaptando-os da tragédia para a comédia – papel que Rousseau irá recusar de forma veemente, pois o filósofo não era a favor da ideia de que os espetáculos expurgam os vícios dos homens e os educam para as virtudes. D’Alembert não apenas faz uma defesa da comédia e dos comediantes, que eram rebaixados socialmente e tidos com pouca estima na Europa, como também sugere montar uma companhia de teatro em Genebra, considerando que através de espetáculos decentes seria possível educar o gosto dos cidadãos dessa nação específica e quiçá influenciar toda a Europa numa possível reforma no que se refere à arte. Tal iniciativa despertaria as nações para uma delicadeza de sentimento que resultaria em bons costumes sociais. Contudo, para Rousseau o objetivo principal dos espetáculos teatrais é o de agradar e entreter, e, segundo o filósofo, o teatro em geral é um quadro das paixões humanas. Apesar de atestar que o homem é uno, Rousseau nos lembra que esse homem uno vai sendo modificado pelas religiões, pelos governos, pelos costumes, leis, preconceitos, climas, etc. E, entre si, os homens tendem a se tornar diferentes e a depender da época e do lugar em que vivem. Como, então, o mesmo espetáculo poderá agradar e entreter todas as civilizações? É a pergunta que Rousseau faz e que responde dizendo que à cada povo, as espécies de espetáculos vão se adequando conforme os gostos diversos das nações, os seus hábitos e costumes. É baseado nessa observação que o filósofo, diferentemente de d’Alembert, não atribui ao teatro o poder de modificar os sentimentos e costumes, mas antes de reproduzi-los e, com algum esforço, de enfeitá-los. Portanto, a crítica de Rousseau a essa arte de agradar tão perniciosa, execrada na figura do teatro francês da época, sustentava indiretamente o modelo político-aristocrático vigente.

Links

PhilArchive



    Upload a copy of this work     Papers currently archived: 91,846

External links

Setup an account with your affiliations in order to access resources via your University's proxy server

Through your library

Similar books and articles

Rousseau Misanthrope.Pedro Paulo Corôa - 2015 - Trans/Form/Ação 38 (s1):71-80.
Teatro político no Brasil.Iná Camargo Costa - 2001 - Trans/Form/Ação 24 (1):113-120.
A bravura do gosto.Schneider Lúcia Hardt, Rosana Silva de Moura & Rodrigo Mafalda - 2017 - Filosofia E Educação 9 (2):125-136.

Analytics

Added to PP
2019-12-18

Downloads
12 (#1,084,326)

6 months
5 (#637,009)

Historical graph of downloads
How can I increase my downloads?

Citations of this work

No citations found.

Add more citations

References found in this work

No references found.

Add more references