Abstract
Não é controverso que o critério da correção das ações segundo os estoicos era debitário de alguma forma de racionalidade. Mas qual forma? Este artigo procura responder a essa questão a partir das Diatribes de Epicteto. Duas teses em torno das quais argumentos para a correção são construídos mostram o caminho. A primeira é que a nossa capacidade racional nos dá a entender a relação de parte/todo e esta relação atribui racionalidade às nossas ações. Com efeito, é porque o agente racional entende suas ações como pertencentes a um todo que elas adquirem inteligibilidade em termos de bondade. As ações são boas e devem ser feitas na medida em que são partes do todo que é bom. A segunda tese é que temos deveres na medida em que somos parte deste todo. Isto decorre de uma noção de função da parte em relação ao todo bem como entre as partes na sua relação com o todo. Podemos acrescentar nesse quadro, uma terceira tese. O resultado da ação das partes é sempre determinado em relação ao todo, de modo que não há espaço para o acaso. Uma vez que os resultados não dependem senão parcialmente da agência das partes tomadas isoladamente, eles não mais asseguram inteligibilidade à ação humana. É por isso que a bondade da ação é derivada inteiramente da relação parte-todo.