Genealogia da metafísica: origens de uma ciência primeira
Abstract
O pensamento de Nietzsche caracteriza-se pelo modo de filosofar genealógico, que consiste em buscar a origem e o sentido dos conceitos instituídos ao longo da história. Mais frequentemente associada ao tema da moral, a genealogia não é um método utilizado apenas quando o filósofo alemão se lança na investigação desse tema: essa maneira de filosofar marca seu pensamento acerca de outros temas fundamentais, como a metafísica. Tema importantíssimo na obra do filósofo, a reflexão de Nietzsche sobre a metafísica haure sua originalidade e poder corrosivo exatamente do método genealógico do qual lança mão. Em coerência com essa afirmação, acreditamos haver uma genealogia da metafísica: através da investigação genealógica sobre a origem e sentido do que a filosofia considerou como incondicionado e atemporal, seus conceitos supremos, Nietzsche indica que tais conceitos supostamente puros são, na verdade, mobilizados por determinadas intenções morais inconfessas. Um desses conceitos sublimes, a Verdade, é especial: foi, segundo Nietzsche, através desse conceito que a metafísica se consolidou como ciência primeira incondicionada, negando seu propósito moral. No entanto, através do imperativo da verdade, os filósofos metafísicos tornaram a moral um saber objetivo: o bem e o mal se vinculam, devido a esse processo, com o verdadeiro e o falso. Nesse processo, as filosofias metafísicas atribuem o peso de verdade em si a seus próprios valores morais, que aparecem como inferências lógicas de uma nobre busca pelo conhecimento. Realizando uma genealogia da verdade, Nietzsche acaba por realizar uma genealogia da metafísica, revelando-a como discurso moral desde sua raiz