Abstract
Este artigo tenta compreender o estatuto da morte dentro da concepção de vida que se pode depreender das teorizações freudianas. Para isso recorremos a uma leitura comparativa entre dois momentos fundamentais da obra de Freud: o empreendimento metapsicológico (com destaque ao artigo sobre as pulsões, de 1915) e a publicação, em 1920, do Além do princípio de prazer. Verificamos que, em linhas gerais, as características mais essenciais com que a vida é descrita mantêm-se as mesmas em ambos esses momentos; o que mudou foi o estatuto conferido à morte nessa concepção, que de limite lógico e externo passou a ser origem e finalidade da vida. Notamos, outrossim, que a incorporação da morte no seio da vida não se deu no vazio, mas que Freud só a perfez ao se debruçar sobre hipóteses que marcavam presença em seu pensamento já antes de 1920, num processo de contínua reelaboração teórica.