Abstract
Desde seu início a pedagogia de Paulo Freire se alimenta das suas leituras de base, convergências e conexões com outros pensadores das ciências humanas/sociais e da educação. A partir dos ideais do catolicismo progressista e do nacionalismo-desenvolvimentista das décadas de 1950 e 1960 – presentes em suas obras Educação e atualidade brasileira e Educação como prática da liberdade –, do progressismo marxista – presente de maneira crescente em Pedagogia do oprimido, Ação Cultural para a liberdade e outros escritos, Educação e mudança –, passando pelos “escritos africanos”, entre outros, até seu declarado “pós-modernismo progressista” – presente em Pedagogia da esperança –, muitos pensadores influenciaram Freire, em menor ou maior grau. Se Karl Jaspers, Maritain e Lima Vaz et al., assim como os ideólogos do ISEB e John Dewey, entre outros, marcaram suas ideias expostas inicialmente e até a metade dos anos 1960, Hegel e o marxismo “superestrutural” marcam a continuidade desenvolvida em Pedagogia do oprimido. De lá para cá, esta base foi misturada com as convergências e conexões de ideias que vão de Piaget a Gramsci, chegando às possibilidades de complementos, parcerias, extensões temáticas e reinvenções conceituais. Apesar do legado de Paulo Freire resultar dessas leituras, convergências e conexões, seu pensamento-ação nunca se deixou dominar/enjaular por nenhuma escola ou tendência ideológica. Ao contrário, reconhecendo a necessidade fundante de diálogos teóricos permanentes e tecendo uma obra sequiosa de complementações, construiu um pensamento original e crítico que marcou a pedagogia da segunda metade do século XX e, a nosso ver, demonstra uma prospecção atual vigorosa. Portanto, neste trabalho buscamos compreender as bases e as conexões do pensamento político-pedagógico de Paulo Freire, explicitadas ao longo do seu discurso e colocadas nos seus principais livros publicados no Brasil, percorrendo um itinerário de referências bibliográficas, aproximadamente cronológico, de sua produção escrita.