Abstract

O domínio público do útero materno resume a história da desumanização damulher. Seu útero como propriedade do pater familiae, das religiões e do feto.O Estado laico permaneceu submerso no discurso cripto-religioso-políticonaturalista.Peloquesedesenvolveramalternativascomoareligiosidadefeminista,aomesmotempoemqueprosseguiao desencantamentodomundopeloconhecimentocientífico.Esseo espaçopropícioparao reapossamentodoúteropelamulher.Neleseautonomizamtemáticasantestratadascomototalidades.Aoinvésdeumabioéticatotalizantedoaborto,trabalhamoscom“universalidadesinextensas”.A anencefalianosforçaa reconhecera bioéticadapurasentimentalidadedamulher.Elapróprianotribunaldaconsciência,noqualé a vítima,o réue o juiz.Umlocuscomfundaçõescravadassobreosalicercesrasosdodissenso,comodefendeChantalMouffe,ou sobreumconsensodebase,cujadensidadeestáno acordoracionalsobrea prevalência,emcentradasquestões,daliberdadedosentimento?Existiriamdissensosimunes à discursividade na esfera pública, ou o respeito passaria por umatipologia específica de acordo, aqui com Habermas? Diante do mal injusto eda dor trágica, caberia à mulher a difícil decisão de velar um ser-na-morte.Nesse espaço vedado ao legislador, fortificado pela proibição de que ninguémserá submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante, éonde habita solitariamente a mulher. Um habitar de plena inviolabilidade deconsciência, no qual a primeira lei é a de que ninguém pode violar o que elaentende como a vontade de Deus.The Public Domain of the Maternal Uterus summarizes the history of thedehumanization of woman, in particular, of her uterus as property of pater familias, religions and the fetus. The secular State has remained submersedin a crypto-religious-political-naturalism. In contrast there have emergedalternatives, such as feminist-religiosity, while the disenchantment of theworld through scientific knowledge has moved ahead. This is the spaceconducive for woman’s reappropriation of the uterus. In and throughthis act, themes hitherto treated as totalities have become autonomous.Instead of a bioethics that totalizes abortion, the aim of this essay is towork on “unextended universalities”. Anencephaly forces us to recognizethe bioethics of woman’s pure feeling. She is the tribunal of conscience,simultaneously victim, defendant and judge. A locus with foundations spikedon the shallow bedrock of dissent, as defended by Chantal Mouffe, or onbasic consensus, whose density lies in rational agreement over prevalence,in centered questions of the freedom of feeling? Would there exist dissentthat is immune to discursivity in the public sphere, or that would pass as aspecific typology of agreement, as with Habermas? Faced with unjust eviland tragic pain, it would be fitting for woman to make the difficult decisionof watching a being-for-death. In the lawmaker’s narrow space, fortified bythe prohibition according to which nobody shall be subjected to torture orinhuman or degrading treatment, is where woman lives solitary. Hers is anexistence of full sanctity of conscience, in which the first law is that nobodymay breach that which she understands to be the will of God