Abstract
Pretende-se abordar a proposta feenbergeriana da transformação da tecnologia, ao procurar um caminho que se distanciasse igualmente da abordagem heideggeriana, que toma a tecnologia como Gestell, a natureza como reserva à disposição e a civilização tecnológica como destino, aprisionando a humanidade no imenso sistema que ela mesma criou; da abordagem da filosofia analítica, que toma a tecnologia como aplicação da ciência e pensa a filosofia da tecnologia na extensão da filosofia da ciência, tomando-a como conhecimento prático e procurando circunscrever o silogismo prático que estabelece o liame entre o conhecimento, o artefato e a ação; e da abordagem marxista tradicional, que toma a tecnologia como força produtiva e pensa a filosofia da tecnologia na extensão da economia, portanto como algo neutro, seja como máquina, seja como ferramenta. Em seu percurso intelectual, Feenberg buscou na Teoria Crítica os elementos para repensar a natureza da tecnologia, encontrando-os nas categorias de práxis, totalidade, razão instrumental, dialética etc.; não sem, ao mesmo tempo, introduzir um tour de force para se livrar do pessimismo atávico de Adorno e do otimismo romântico de Marcuse. Em seguida, sem abandonar a herança frankfurtiana, ele se alinhou à perspectiva do empirical turn, que caracteriza um importante segmento da filosofia da tecnologia norte-americana atual, bem como os chamados Social Studies of Science, aos quais se acrescenta a Tecnologia, tendo o construtivismo social e a escola francesa como principais interlocutores. O foco deste artigo é o empirical turn, marcado pela busca de apoio empírico nas considerações filosóficas acerca dos sistemas sócio-técnicos, além do desafio de não deixar a filosofia da tecnologia se servilizar pela sociologia/antropologia das tecnociências.