Abstract
O presente artigo parte da enunciação da tese de que são os tumultos uma das principais razões para o ordenamento republicano. A partir da análise do capítulo quatro do livro I dos Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, da autoria de Nicolau Maquiavel, é possível afirmar que a república, forma de governo que na tipologia maquiaveliana se opõe à monarquia ou principado, encontra na duplicidade dos humores existentes no tecido social a causa de sua liberdade, na medida em que da tensão entre o desejo insaciável de poder dos grandes e o desejo popular de proteção contra a opressão enseja a criação de um espaço institucional propício para o exercício legislativo voltado para o bem comum. O campo da política deixa de ser observado enquanto obra da fortuna ou da virtù, tal como defendido pela tradição humanista, para ser analisado a partir da realidade social concreta.