Abstract
A determinação da profundidade e âmbito da influência que as Cartas Estéticas de Schiller exerceu sobre a filosofia de Peirce revelou-se como uma desafiadora tarefa interpretativa. Tanto o entendimento de sua necessidade quanto a consciência de suas dificuldades apenas surgiram gradativamente na obra de gerações de estudiosos. O objetivo deste trabalho é delinear a situação hermeneutica atual em relação à ‘questão-Schiller-Peirce’ e executar a sub-tarefa de interpretar um grupo de passagens que, até agora, não receberam a atenção e o rigor filológico que merecem: as recordações de Peirce de seu estudo juvenil das Cartas. Como constituem nossa única garantia da premissa de que o pensamento de Schiller – além de servir como acesso a Kant, em torno de 1855 – teve algum significado para Peirce, as recordações são documentadas o mais plenamente possível, a fim de situar o ressurgimento de Schiller no pensamento de Peirce no contexto dos desafios teoréticos enfrentados por Peirce, em vista da reconcepção coenoscópica das ciências filosóficas que ocorreram entre 1900 e 1903. Esta contextualização arquitetônica das recordações corresponde aos resultados de nossa análise da juvelinia obtida em um trabalho conjunto. A essência categoriológica das Cartas, em torno da qual Schiller constrói uma lógica tripartida de processos psíquicos, agiu como um catalizador para a análise de Peirce das deficiências da categoriologia de Kant e, assim, fundamentou sua concepção e uso das categorias como constituintes meramente formais – verdadeiramente universais, estritamente ordenados, essencialmente modais – de fenomenalidade, normatividade e processualidade histórica, i.e., como os elementos constitutivos e dimensões arquitetônicas da semiose de uma inteligência, capaz de aprender através da experiência.