Abstract
O caráter protocolar desempenhado pelas matemáticas na formulação do conceito cartesiano de ciência é amplamente difundido e frequentemente reinvocado na literatura especializada quando se trata de abordar a exigência apodítica inerente a este conceito. No entanto, pouco se explora o que a diversidade das disciplinas matemáticas bem como a relação entretida por elas permite trazer de elucidação à noção cartesiana de ciência. Nosso propósito consiste, aqui, em tomar posição quanto a um debate acerca do estatuto da álgebra e da geometria como disciplinas que fixam os lineamentos da teoria cartesiana do conhecimento ao exibirem o que Descartes reputaria como a aplicação ideal do intelecto. Trata-se de insistir, por vias que assinalam uma decisão teórica em favor de uma concepção mais intelectualista e menos imaginativa da ciência, que não há hesitação quanto ao papel primitivo e fundacional da álgebra se comparada à geometria.