Abstract
O presente artigo objetiva realizar uma análise conjunta das obras Metamorfoses (2020) do filósofo italiano Emanuele Coccia e O mestre ignorante (1987) do filósofo francês Jacques Rancière. A análise será feita sob a luz do crescente interesse contemporâneo sobre o conceito de comum, considerado uma aposta política e filosófica de diversos movimentos sociais e intelectuais críticos tanto do neoliberalismo quanto do comunismo de Estado. Argumentaremos que as duas obras, ainda que não coloquem tal noção em primeiro plano, apresentam contribuições importantes para a compreensão do comum, principalmente em sua dimensão filosófica. Argumentaremos também que o conceito de inteligência em O mestre ignorante e o conceito de metamorfose em Metamorfoses, ainda que mobilizados em edifícios conceituais diferentes, não deixam de apresentar um certo tipo de parentesco – sendo ambos dispositivos sensíveis e cognitivos que expressam uma dimensão inapropriável, transmundana e compartilhada, uma riqueza comum, uma potência imprópria que pertence a todos e a ninguém.