Racionalidade e Credibilidade da Religiosidade Monoteísta

Revista Portuguesa de Filosofia 62 (2/4):739 - 761 (2006)
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Abstract

O ponto de partida do presente artigo consiste na afirmação de que as religiões originárias do Próximo Oriente - Judaísmo, Cristianismo, e Islamismo - contêm em si mesmas inconsistências práticas e teóricas. Mais ainda, o autor afirma que estas religiões estão em contradição umas com as outras no que diz respeito a aspectos teológicos essenciais, para além de que entre elas existe um passado de guerra e de conflito. Ora estas são precisamente as razões pelas quais o autor considera que a credibilidade epistemológica e moral destas religiões foi dramaticamente afectada. Daí o principal objectivo do artigo: contribuir para o esclarecimento do modo como Filosofia e Teologia podem cooperar entre si em ordem a uma mitigação destas deficiências. Nesse sentido, segundo o autor, uma e outra devem abraçar a possibilidade de demonstrar epistemologicamente que os conteúdos da revelação do ponto de vista da razão não são nem demonstráveis nem refutáveis, pois esses conteúdos não são proposições científicas acerca de eventos e processos interiores ao mundo, mas apenas a expressão de uma atitude religiosa em relação ao mundo no seu todo (e em relação a Deus). Nessa medida, diz o autor, nada justifica que atitudes religiosas de fé e de amor sejam caracterizadas como 'irracionais', antes a elas se devendo aplicar a designação de 'a-racional' ou simplesmente de 'transracional. Mais ainda, a Filosofia e a Teologia estão em posição de mostrar de que modo atitudes religiosas fundamentais estão construídas umas sobre as outras. Com efeito, básica em todas as formas de religião é uma atitude em relação ao mundo considerado como um todo, tal como se pode encontrar, por exemplo, no Taoismo ou no Zen-Budismo, de modo que aqui não se encontra qualquer forma de crença numa divindade transcendente; ora é precisamente esta atitude que o autor do artigo designa por 'Religiosidade A'. Como 'Religiosidade B', por outro lado, designa o autor toda a atitude religiosa de fundo que transcende o mundo presente e nos remete para a existência de um Deus único e da sua Revelação, tal como é o caso com o Judaísmo, o Cristianismo, e o Islamismo. Aqui, a tarefa consiste sobretudo em clarificar de forma lógica e conceptual a possibilidade de uma auto-revelação divina bem como da sua aceitabilidade nos termos de uma crença humanamente constituída. Finalmente, o artigo refere também aquela que o autor considera ser a 'Religiosidade C', expressão esta que simplesmente denota aquela atitude em que, com base nas premissas presentes nas formas A e B de religiosidade, somos especificamente remetidos para á Revelação cristã, ou seja, para a experiência nos termos da qual se professa a encarnação de Deus em Jesus de Nazaré e se afirma a sua condição de ser expressão do amor incondicional de Deus para com todos os seres humanos. Na verdade, a natureza incondicional deste amor apresenta-se como um escândalo moral diante da auto-compreensão ética da humanidade. Consequentemente, a incompreensibiliâade deste amor não pode ser senão objecto da revelação divina e da pura fé, únicos modos possíveis de ele se transformar numa possível justificação 'moral' dos seres humanos. /// Starting-point of this article is the fact that the religions originated from the Near East - Judaism, Christianity, and Islam - do contain in themselves theoretical and practical inconsistencies. Moreover, they contradict each other in essential theological regards, and they made war upon each other in the past. For these reasons, their epistemological and moral credibility has been dramatically diminished. In this context, the article aims at showing how philosophy and theology might be able to work together in alleviating these deficits. First, they may demonstrate epistemologically that the contents of revelation are neither rationally demonstrable nor refutable because they are not scientific statements upon events and processes within the world but the expression of a religious attitude towards the world as a whole (and towards God). Therefore, such attitudes as religious faith and love shouldn't be designated 'irrational', but rather as arational' or, 'transrational'. Furthermore, philosophy and theology are able to show in what manner fundamental religious attitudes are built upon another: Basic for all higher forms of religion is an attitude towards the world as a whole – as one can find for instance in Daoism or Zen-Buddhism – where there is not yet any belief in a transcendent deity; that attitude is called 'Religiosity A'. So called 'Religiosity B' is a fundamental attitude which transcends this world and refers to a sole God and his revelation as can be found among Jews, Christians, and Muslims. Here, the possibility of divine self-revelation and of its acceptability by human faith has to be clarified logically and conceptually. Finally, 'Religiosity C denotes that attitude which, on the premises of those Religiosities A and B, refers to the specifically Christian revelation which confesses the incarnation of God in Jesus and presents him as the expression of God's unconditional love to all human beings. The unconditionality of this love seems to be a moral scandal to human moral understanding. Therefore, this unconceivable love has to be object of divine revelation and of pure faith so that it might be the basis of all possible 'moral' justification of humankind.

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