Abstract
Este artigo procura apresentar algumas considerações acerca do entrecruzamento do pensamento político de Hannah Arendt e a questão ambiental. Para tanto, o seguinte questionamento servirá de guia para a reflexão aqui pretendida: se o âmbito natural é perturbado pelas ações humanas, é razoável a crença de que a própria ação humana possa ser capaz de frear o atual cenário de catástrofe? Assim sendo, assume-se, aqui, como procedimento metodológico uma análise bibliográfica que recorre ao livro A condição humana (The human condition, 1958 [2010]) e alguns ensaios da coletânea Entre o passado e o futuro (Between Past and Future, 1961 [2009]). De modo geral, busca-se desenvolver o argumento de que embora não se possa enquadrar Hannah Arendt no rol das “historiadoras das ciências”, tampouco uma “pensadora da ecologia”, é certo que ela nunca deixou de se interessar e comentar os eventos científicos de seu tempo, bem como de se preocupar com as consequências das ações humanas. Logo, os assuntos relacionados aos avanços tecnológicos e científicos constituem assuntos de primeira grandeza e importância tanto para o mundo quanto para a política. Em suma, pretende-se sustentar a hipótese de que para Hannah Arendt, a imagem adotada da natureza – ao menos desde a época moderna –, e as ações humanas cometidas a partir desta compreensão, afetam diretamente nossa existência política.