Abstract
A interpretação da filosofia de Nāgārjuna como um niilismo metafísico radical é comum tanto entre os autores antigos quanto nos estudos budológicos contemporâneos. Uma primeira leitura da doutrina da vacuidade proposta por esse autor, com efeito, parece levar à conclusão de que nada existe em última análise e, portanto, a realidade em si seria equivalente a um puro não-ser. Uma tal metafísica do nada, entretanto, seria duplamente problemática: primeiramente, ela parece sofrer de graves incovenientes lógico-conceituais; em segundo lugar, ela colocaria Nāgārjuna fora da ortodoxia budista, por ser o niilismo uma doutrina explicitamente reprovada pelo Buda histórico. Uma leitura mais atenta e completa dos textos a nossa disposição, entretanto, nos leva a concluir que a filosofia do fundador da escola Madhyamaka não pode ser considerado como um niilismo metafísico, mas sim, ao invés disso, como uma tentativa de evitar e de eliminar qualquer metafísica, tanto afirmativa quanto negativa, em total acordo com o programa filosófico – já presente no ensinamento do Buda – do “caminho do meio”, equidistante das categorias do ser e do não-ser.