Abstract
O presente artigo busca comparar as ontologias desenvolvidas por Heidegger e Cassirer mostrando que ambos possuem concepções distintas sobre a origem dos múltiplos sentidos do ser, as quais servirão para sustentar interpretações opostas acerca da ascensão do nacional-socialismo na Alemanha. Em Heidegger o sentido é pensado a partir de uma origem única: seja a temporalidade do Dasein, seja a epocalidade do ser no Heidegger tardio. Cassirer, por sua vez, pensa o ser como dado mediante uma multiplicidade de origens expressas nas formas simbólicas da cultura. Curiosamente, ambos os filósofos se utilizarão de suas respectivas ontologias para pensar o surgimento do nacional-socialismo a partir da relação entre mito e técnica. Assim, no início dos anos de 1930, Heidegger pensar história do ser a partir da perspectiva de uma origem mito-poética, vendo o nacional-socialismo como uma possibilidade de retorno ao início grego do pensamento ocidental e da irrupção de um novo modo de doação do ser que pudesse superar o domínio planetário da técnica moderna. Cassirer, ao contrário, verá no nazismo uma infiltração indevida do elemento mítico na sociedade tecno-científica. Por fim, a comparação entre as duas ontologias mostrará, ao mesmo tempo, as limitações de cada posicionamento filosófico. Se Cassirer valoriza o pensamento técnico-científico a ponto de não conseguir ver nele um modo de dominação e ameaça ao humano, Heidegger não parece perceber os perigos que se escondem na sua mitificação da origem.