Abstract
A experiência do jardim é um fenómeno com especificidades que ultrapassam as esferas da apreciação da arte e da natureza. É um a experiência que amplia a compreensão do ser no mundo e que obriga a uma transversalidade entre domínios vários d a esfera do saber. Ao nível da filosofia, o jardim proporciona uma forma única de conceptualização, sobressaindo como categoria sintética em que physis e poiesis se enleiam e apontam para uma concepção da natureza em ampla relação com as formas de consciência que o homem tem de si, da sua posição no mundo e da sua relação com o real. É com base nesta perspectiva que o presente texto propõe uma abordagem ao jardim no contexto do percurso biográfico e teórico de Santo Agostinho, a par da análise da obra A travers un verger, do poeta Philippe Jaccottet. O encontro improvável entre dois autores tão distintos, através da figura do jardim, reflecte o descentramento do sujeito, fundado na estética, em articulação com a experiência dos limites e da transcendência.