Abstract
O presente artigo ocupa-se, em sentido amplo, de um tema já consagrado por pesquisas acadêmicas oriundas de diferentes áreas do conhecimento: a interdisciplinaridade. Já não é mais necessário justificar a relevância sobre tais estudos, uma vez que são preponderantes os discursos que apontam para a emergência da superação do isolamento entre disciplinas. Em sentido estrito, este artigo posiciona o tema da interdisciplinaridade numa perspectiva que não é comum entre os debates mais recorrentes sobre o tema: assume-se a primazia da ética sobre a epistemologia na justificação da interdisciplinaridade. Após uma exploração preliminar sobre o que é característico nas definições de disciplina e interdisciplinaridade, o texto segue explorando sob dois aspectos a primazia ética: primeiramente, busca-se evidenciar uma dimensão ética constituinte da interdisciplinaridade; na sequência toma-se da hermenêutica filosófica a relação entre compreensão e deliberação para posicionar a primazia da ética sobre a epistemologia na justificação da interdisciplinaridade. Trata-se, aqui, de um estudo teórico que, de modo analítico e interpretativo, volta-se a definições preliminares e alcança uma construção conceitual sustentada pelas perspectivas teóricas estudadas. A fim de apoiar as definições preliminares sobre disciplina e interdisciplinaridade, analisam-se textos de Pombo e Paviani. A partir de Bombassaro é indicado o acento ético do debate sobre interdisciplinaridade e, com Rorty, é demarcada a solidariedade como processo de construção dos saberes. O argumento sobre a primazia da ética é especialmente construído com apoio em Gadamer. O percurso conceitual aqui apresentado visa oferecer subsídios para que os debates sobre interdisciplinaridade em distintos setores da sociedade – desde aqueles em que se desenvolvem os saberes, até aqueles que os divulgam e aplicam – tenham especial atenção às implicações éticas aí presentes. Palavras-chave : Interdisciplinaridade. Ética. Processos de justificação do conhecimento.