Reconstruiremos a crítica de Olavo de Carvalho à modernidade, à ciência e aos intelectuais públicos, a partir da sua proposta de um dualismo-maniqueísmo ontológico-antropológico sob a forma de autoexclusão de espírito e matéria enquanto representando o drama humano ante o universo e a eternidade, e de uma perspectiva metodológica dinamizada como intuicionismo personalista, privatista, espiritualista e interiorizado, o qual, como postura anti-estrutural e antissistêmica, capacitaria cada indivíduo humano, independentemente de mediações institucionalistas, cientificistas e tecnicistas, a acessar diretamente a Verdade absoluta (...) e a compreender de si por si mesmo a objetividade do mundo e do homem. Em continuidade, explicitaremos exatamente essa correlação, feita por Olavo de Carvalho, entre modernidade, materialismo, ceticismo, relativismo e ideologia, que descamba para uma ciência positivista-perspectivista incapaz de produzir conhecimento objetivo e de gerar princípios e justificação racionais, para o horizonte da história como espaço do ceticismo e do relativismo, para o instrumento da política enquanto dinamizado por ideologias coletivistas e, finalmente, para a ação institucional-social intersubjetiva enquanto anulando o indivíduo. A modernidade como negação da ontoteologia e centralidade de materialismo, ceticismo, relativismo e ideologia, instaura os dois grandes macrossujeitos totalitários hodiernos, conforme Olavo de Carvalho: a academia e o partido de massas. Palavras-Chave: Olavo de Carvalho; Modernidade; Intelectuais Públicos; Materialismo; Ideologia. “Wise according to the flesh”: Olavo de Carvalho’s criticism to public intellectuals: We intend to reconstruct the Olavo de Carvalho’s criticism to modernity, science and public intellectuals, from his proposal of a ontological-anthropological dualism-manichaeism as mutual exclusion between spirit and matter as representing the human drama before universe and eternity, as well as through a methodological perspective streamlined as personalist, privatized, spiritualist and interiorized intuitionism, which, as an anti-structural and anti-systemic posture, would able each individual, independently of institutionalist, scientist and technicist mediations, to directly access the absolute Truth, and to comprehend from himself and by himself the objectivity of world and man. From this, we will explicit exactly this correlation, constructed by Olavo de Carvalho, of modernity, materialism, skepticism, relativism and ideology, which leads to a positivist-perspectivist science unable to produce objective knowledge and to generate rational principles and justification, to the horizon of history as sphere of skepticism and relativism, to the instrument of politics as streamlined by collectivist ideologies, and finally to the institutional-social intersubjective action as annulling the individual. Now, modernity as negation of ontotheology and the centrality of materialism, skepticism, relativism and ideology institutes the two main totalitarian macro-subjects of our time, according to Olavo de Carvalho: academy and mass party. Key-Words: Olavo de Carvalho; Modernity; Public Intellectuals; Materialism; Ideology. “Sabios según la carne”: la crítica de Olavo de Carvalho a los intelectuales públicos Resumen: Proponemos reconstruir la crítica de Olavo de Carvalho a la modernidad, la ciencia y los intelectuales públicos, a partir de su propuesta de un dualismo-maniqueísmo ontológico-antropológico en forma de autoexclusión entre espíritu y materia como representación del drama humano ante el universo y la eternidad, así como de una perspectiva metodológica dinamizada como intuicionismo personalista, privatista, espiritualista e interiorizado, que, como postura antiestructural y antisistémica, permitiría a cada individuo humano, independientemente de las mediaciones institucionalistas, científicas y técnicas, acceder directamente a la Verdad absoluta y comprender por sí mismo la objetividad del mundo y del hombre. En continuidad, trataremos de explicar exactamente esta correlación, hecha por Olavo de Carvalho, entre modernidad, materialismo, escepticismo, relativismo e ideología, que conduce a una ciencia positivista-perspectivista incapaz de producir conocimiento objetivo y generar principios y justificación racionales, para el horizonte de la historia como espacio de escepticismo y relativismo, para el instrumento de la política dinamizado por ideologías colectivistas y, finalmente, para la acción institucional-social intersubjetiva como anuladora del individuo. Ahora bien, la modernidad como negación de la ontoteología y centralidad del materialismo, el escepticismo, el relativismo y la ideología, establece los dos grandes macro-sujetos totalitarios de nuestro tiempo, según Olavo de Carvalho: la academia y el partido de masas. Palabras-Clave: Olavo de Carvalho; Modernidad; Intelectuales Públicos; Materialismo; Ideología. Data de registro: 03/12/2020 Data de aceite: 15/06/2022. (shrink)
In the paper, we will study Olavo de Carvalho’s thought, focusing on his position regarding Brazilian and American Black movement in its struggle for reparation in terms of colonialism-slavery-racism. We will argue that his refusal of any reparatory praxis to political-cultural minorities and his position of a non-place for Black-African traditions in the context of Western culture/civilization, as with respect to his defense of the inferiority of Black-African culture-civilization when compared to Jewish-Christian, Greek-Latin and Medieval-Renaissance tradition, is pervaded by a (...) dualist metaphysics with a highly anti-modern and anti-modernizing character, in which the dynamic of streamlining of “human drama about universe and eternity” is constituted by the struggle between natural necessity and individual consciousness, that can only be won by the correlation of divine grace given by Jesus Christ and personal direct and immediate interiorization and intuition by each individual with God; by the refusal of politics, history and intersubjective action as basically materialism and, in this sense, as the sphere of totalitarian political ideologies ; and, finally, by the centrality of spiritualism, of intimate and direct relation between God and man, mediated by Revelation, which points to the non-existence, in the Olavo de Carvalho’ thought, of objective parameters to rational discussion, interaction and justification – that is the reason of his delegitimation of science, politics, history and macro-structural institutional action, and his appeal to methodological, intuitionist and spiritualist individualism. (shrink)
Desenvolveremos dois argumentos. Primeiro: a utilização do dualismo antropológico – modernidade e pré-modernidade, pós-tradicional e tradicional – por parte de filosofias europeias como base da constituição do discurso filosófico-sociológico-antropológico da modernidade-modernização ocidental implica na consolidação de uma compreensão exclusivista da modernidade ocidental como europeização, demarcada pela ideia de que ela é um processo basicamente autônomo, independente, endógeno, autorreferencial, autossubsistente e autossuficiente, sem qualquer relacionalidade com o outro da modernidade, completamente separada dele, bem como na anulação e na deslegitimação dos outros (...) da modernidade como passado antropológico e déficit de modernização ou de racionalização, com a consequente colocação da modernidade europeia como presente autoconsciente, atualidade substantiva e abertura ao futuro. Segundo: a descolonização africana e o pensamento indígena brasileiro, ao desconstruírem esse dualismo antropológico e a deslegitimação dos outros da modernidade como condição pré-moderna e passado evolutivo, rompem o monopólio epistêmico-político moderno de tematização do humano e de justificação do universalismo pós-tradicional, correlacionando-o ao colonialismo e ao racismo estrutural. Enquanto poder originário da/pela diferença, a descolonização africana e o pensamento indígena brasileiro descentralizam e pluralizam as epistemes, as histórias, as alternativas político-normativas e, desse modo, e realizam uma crítica da modernização ocidental desde o lugar de fala das minorias político-culturais. (shrink)
Utilizaremos o conceito de sociedade sem mediações, calcada no racismo estrutural, tal como proposto por Frantz Fanon, para explicar a tendência regressiva própria às sociedades de modernização periférica, mormente o Brasil. A partir de uma crítica a Gilberto Freyre e a Florestan Fernandes, os quais assumem uma noção de objetivismo sociológico necessitarista com caráter apolítico-despolitizado para explicar o desenvolvimento e as contradições da sociedade brasileira hodierna (o sadismo-masoquismo de Freyre; a incapacidade negra para a ética protestante do trabalho, por causa (...) do escravismo), recusando, ambos, seja o racismo estrutural, seja o branqueamento racial, apontaremos exatamente para (a) a evolução sistêmica como um projeto político intencionado e planificado do branco/colonizador sobre o negro/colonizado enquanto o efetivo mote e dinâmica práticos da formação e do desenvolvimento da sociedade colonial; (b) a inexistência ou a fragilidade das mediações jurídicas, institucionais e normativas entre essas realidades compartimentadas e estanques da raça (branco sobre o – e contra o – negro); (c) a violência direta e a regressão permanente como as tendências estruturais da constituição e do desenvolvimento de uma sociedade de modernização periférica e racializada, inclusive com o apagamento e a falsificação da história colonial; e, finalmente, (d) a correlação intrínseca, mais uma vez negada por Freyre e Fernandes e, ao contrário, afirmada por Fanon, de raça e classe, raça como classe, classe como raça. (shrink)
Criticamos, no artigo, duas exigências fundamentais postas pelo paradigma normativo da modernidade como condição da crítica, da reflexividade e da emancipação, a saber, a racionalização epistemológica dos sujeitos, das práticas e dos valores como critério da justificação e da validade, e o procedimentalismo imparcial, neutro, formal e impessoal como práxis da fundamentação ético-política. Argumentaremos que essas duas exigências teórico-práticas levam a dois graves problemas para uma teoria social crítica e para uma práxis política emancipatória relativamente à modernidade: primeiro, sujeitos epistemológico-políticos (...) marginalizados pela modernidade teriam de abandonar a carnalidade e a vinculação ao seu contexto e sua situação de vítimas da modernidade como condição de uma perspectiva crítica frente à própria modernidade como universalismo epistemológico-moral autêntico; segundo, uma perspectiva político-metodológica imparcial, neutral, formal e impessoal conduz tanto à apoliticidade e à despolitização dos sujeitos da fundamentação quanto à correlação de institucionalismo forte, cientificismo e lógica sistêmica, já que, nesse segundo caso, apenas as instituições e desde uma dinâmica lógico-técnica têm condições de assumir uma atuação e um enquadramento sociais nesses requisitos de imparcialidade, impessoalidade, neutralidade e formalismo. Como alternativa, apontaremos para a necessidade, por parte das vítimas da modernização, de uma voz- práxis política-politizante, carnal e vinculada, que tem como ponto de partida sua condição de marginalização e sua pertença social e antropológica como base da autoafirmação, da resistência e da luta e que se processa sob a forma de um anarquismo estético-político anti-sistêmico, anti-institucionalista e anti-cientificista, aberto, inclusivo e participativo. Palavras-chave: Modernização. Institucionalismo. Lógica sistêmica. Excluídos. Anarquismo estético-político. (shrink)
This paper has two main purposes, the first is to develop a criticism on the notion of modernity, or Western rationalism, presented in contemporary theories of modernity, characterized by the idea of autonomy and self-sufficiency of reason regarding the foundation of a binding notion of social normativity. The study criticizes the main perception of these theories of modernity, namely, the proposition that profane and secularized rationalism, marked by an impartial, neutral, formal and impersonal perspective in axiological-methodological terms, is enough to (...) ensure this same epistemological-moral Universalism without religion and metaphysics. The second purpose consists in arguing in favor of a political and religious Universalism that points to the incapacity of this purist and independent notion of reason in generating and sustaining, without foundation and application based on metaphysics and religion, a universal content of Human Rights. The work is grounded on bibliographical analysis of contemporary theories of modernity, from a criticism to their central presumption, which is the autonomy, self-referentiality and self-subsistence of reason relatively to religion and metaphysics, proposing, as a conclusion, the correlation of reason and religion-metaphysics as the path and the content of epistemological-moral Universalism. (shrink)
In the text, we put the category of differences as anthropological-ontological and epistemological-moral contemporary ethos and praxis which challenge-streamline institutionalized and universalist religions, for example the Catholic Church, in their use of essentialist and naturalized foundations as normative-paradigmatic basis for framing, legitimation and orientation of these differences, as basement for the dialectics between plurality and unity regarding these differences. From that, we will argue that the institutionalized and universalist religions’ central challenge – and, in our case again, the Catholic Church’s (...) central challenge – consists in the deconstruction of the correlation among strong institutionalism, strict anthropological-ontological and epistemological-moral objectivity and political-normative fundamentalism. In this sense, as long as religious institutions bring the differences as normative praxis and epistemological-political subjects into their internal dynamic of constitution, legitimation and social foment of the creed, it is possible to achieve the weakening and the moderation – and perhaps the own abandonment – of the essentialist and naturalized foundations as basis for framing of all areas of human life. Anyway, as we think, this must be the case for gender and sexuality, which could not and should not be grounded on such an essentialist and naturalized basis. (shrink)
This paper provides a criticism of the New Left’s discourse of legitimation of the globalization hypothesis based on the same understanding of it than contemporary Conservative Liberalism. According to the New Left’s basic epistemological-political standpoint, the economic globalization is a consolidated process which leads not only to the era of international economy, but also to the failure of a nationalist interventionist politics, as to the irreversible weakening of the Welfare State model of strong political institutions as the basis of economic (...) constitution and of social evolution. According to the New Left, only international political institutions can frame the international economy. We argue that the New Left does not seriously consider the notion of late capitalism, disregarding the political-economic dependence between central and peripheral countries as the fundamental characteristic of international politics and of global economic constitution. Here, international political institutions cannot tackle macroeconomic contradictions and pathologies due to the fact that the international economic order is grounded on political inequality and dependence of these central and peripheral countries. The important epistemological-political question is not primarily the economic globalization itself, but its political basis, that is, the international politics founded on the periphery’s dependence as the condition to central development. Therefore, only the recovery and the renewal of a nationalist and interventionist politics based on the strengthening of political institutions in general and of the Welfare State in particular can respond to problems of economic globalization, deconstructing the New Left’s globalization hypothesis. (shrink)
Argumentamos, no artigo, a partir de uma análise sistemática da produção literária de escritores/as indígenas brasileiros/as, que, desde a segunda metade do século XX, os povos indígenas passaram a afirmar a e a utilizar-se da esfera pública, sob a forma de ativismo, de militância e de engajamento, enquanto a estratégia e o lugar por excelência para a tematização da questão indígena no país, como forma de reação a processos de expansão socioeconômica e de negação político-cultural que punham em xeque a (...) sua própria existência, bem como em termos de recusa seja do paternalismo tecnocrático, seja da ideia de responsabilidade relativa a eles impostos. Com o objetivo de consolidarem-se como sujeitos público-políticos atuantes, eles optaram pela educação escolar e pela apropriação de ferramentas epistemológicas e técnicas digitais que lhes permitissem inserir-se na socialização nacional, modernizar-se política, cultural e epistemologicamente para, com isso, dinamizar uma perspectiva de crítica de nossa modernização conservadora a partir da auto-organização comunitária interna e desde a construção de uma rede de interação entre as nações indígenas. Rompe-se, por meio disso, com a imagem produzida cultural e normativamente pela colonização do/a índio/a selvagem, rude e bárbaro/a, confinado/a ao mais recôndito de nossas matas, incapaz de civilização; e, em seu lugar, consolida-se exatamente esse/a indígena socializado/a, modernizado/a, no pleno uso de sua cidadania política, produzindo e publicizando conhecimento, cultura e arte próprias. Da apropriação da educação escolar e dessas ferramentas e técnicas epistemológico-digitais passa-se, portanto, a uma postura ativista, militante e engajada na esfera pública, política e cultural, por meio da correlação de Movimento Indígena e de literatura indígena, em que a promoção da singularidade étnico-antropológica está na base da própria crítica à modernidade constituída e realizada pelos povos indígenas, seus/as intelectuais e escritores/as. (shrink)
Neste artigo, desenvolveremos a crítica de Ailton Krenak à modernidade-modernização ocidental como uma monocultura de ideias que se constitui como uma estrutura autorreferencial, autossubsistente, endógena, autônoma e autossuficiente, não necessitando do outro da modernidade em termos de ajuda e de crítica. Utilizando a ideia de colonialismo como teoria da modernidade, identificaremos cinco problemas fundamentais apresentados pela teoria da modernidade-modernização ocidental de Jürgen Habermas que justificam a crítica de Ailton Krenak, a saber: a modernidade como uma sociedade-cultura marcada por uma singularidade (...) absoluta, enquanto universalismo-globalismo pós-metafísico via racionalidade cultural-comunicativa, diferente de todo o resto das sociedades-culturas como tradicionalismo em geral via fundamentações essencialistas e naturalizadas; a compreensão do processo de constituição e de desenvolvimento da modernidade europeia como um movimento-princípio endógeno, autônomo, autossuficiente e fechado relativamente ao outro da modernidade, plenamente capaz de autocompreensão, autorreflexividade e autocorreção desde dentro, por seus próprios meios, sem necessidade de ajuda externa; a redução da dinâmica constitutiva e caracterizadora da modernidade como correlação, separação e tensão-contradição entre modernidade cultural e modernização econômico-social, com o silenciamento sobre o e o apagamento do colonialismo como movimento, princípio e consequência do processo de modernização ocidental; a compreensão restritiva do caminho constitutivo e evolutivo da modernidade-modernização ocidental, como um processo reto, direto e linear que vai da Europa moderna ao Primeiro e Segundo Mundos, mais uma vez silenciando-se sobre e apagando o Terceiro Mundo enquanto parte constitutiva e consequência da modernidade-modernização ocidental como um todo; e, finalmente, a correlação de modernidade cultural com/como o gênero humano, do gênero humano como um grande processo de modernização e de cada sociedade-cultura particular como uma proto-modernidade, o que sustenta e respalda exatamente a modernidade-modernização ocidental como ápice da evolução humana e, assim, seu sentido e sua vocação universalistas-globalistas, característica negada ao outro da modernidade. (shrink)
This paper criticizes the emphasis placed by contemporary social theory and political philosophy on institutionalism as the basis for the understanding, legitimation and changing of institutions, or social systems, and society as a whole. The more impactful characteristic of institutionalism is its technical-logical structuring, based on an impartial, neutral and formal proceduralism that autonomizes social systems in relation to political praxis and social normativity, depoliticizing these social systems. Here, they are no longer depoliticized, but assume political centrality as the fundamental (...) social subjects of the legitimation and evolution of institutions and society. The paper’s central argument is that it is necessary to re-politicize the institutions and the social subjects or social classes in order to ground and streamline a direct political praxis and the civil society’s social-political subjects as the basis for framing and legitimizing the current process of Western modernization. Recovering the politicity and the carnality of institutions, of social classes and of the evolution of society, is the fundamental task for a contemporary critical social theory that faces the strong institutionalism based on systemic theory. Such politicization is the unforgettable teaching of Karl Marx and Erich Fromm: the institutions have political content and political subjects, they are the result of social struggles for hegemony between opposed social classes which are political. Now, such politicity-carnality must be unveiled and used for an emancipatory democratic political praxis as the route for social analysis and political change, in opposition to the technical-logical understanding both of the institutions and of the social subjects. (shrink)
Neste artigo, defendemos que as teorias euronorcêntricas da modernidade, cujo mote é a reconstrução filosófico-sociológica do processo de modernização ocidental sofrem de uma cegueira histórico-sociológica que é caracterizada por três pontos básicos: o desenvolvimento dessa mesma modernização ocidental como um processo autorreferencial, auto-subsistente, auto-suficiente, endógeno e autônomo, de modo que haveria a modernidade enquanto racionalização e todo o resto enquanto tradicionalismo, o que, por outro lado, não impede as teorias da modernidade de correlacionarem modernidade-modernização, racionalização, universalismo e gênero humano; a (...) separação entre modernidade cultural e modernização econômico-social, a primeira enquanto esfera puramente normativa e a segunda enquanto esfera basicamente instrumental, lógico-técnica, com o objetivo de salvar-se um conceito normativo de universalismo epistemológico-moral que se confunde com a própria modernidade cultural; e, como condição de tudo isso, o apagamento do e o silenciamento sobre o colonialismo enquanto uma consequência do desenvolvimento da modernização ocidental como um todo. Argumentamos que uma práxis decolonial latino-americana tem na denúncia, no desvelamento e na desconstrução dessa cegueira histórico-sociológica das teorias euronorcêntricas da modernidade em sua estilização do processo de modernização ocidental o ponto de partida epistemológico-político fundamental para constituir-se como alternativa ao paradigma normativo da modernidade, para fundar o seu discurso filosófico-sociológico da modernização ocidental em sua correlação com o colonialismo. (shrink)
The paper aims to clarify the sense of contemporary fascism, particularly from the example of the Brazilian Bonsolarism, defining it as an anti-systemic, anti-institucional, anti-juridical and infralegal perspective with a personalist, devoted, voluntarist, spontaneous and militant character which starts from inside judiciary and in terms of subversion of the relation among law, politics and moral, and that, by means of politicization and partisanship of law, branches to the political system, serving as instrument to the fratricide political war among parties, from (...) there linking to civil society in the form of constitution of a digital-social mass-militia of acclamation oriented to an anti-systemic posture. In this dynamic, the fascism has two constitutive and streamlining cores: on one side, it subverts the correlation of human rights and law, delegitimizing and truly destroying the ontogenetic primacy, the separation, the differentiation, the self-referentiality and the overposition of law in relation to politics and moral, as the subsidiarity of them regarding law; on other, it leads to the deconstruction from inside to judiciary and political system of the highly institutionalist, legalist, technical, formal and depersonalized perspective which is proper to them, eliminating the centrality of the judiciary and, them, delegitimizing its regulator role regarding to political system and to the social dialectics, normalizing the totalizing regression caused by political-moral colonization of the democratic law. By reconstructing the pluralist and universalist democracy’s meta-normative and generative basis as a public system of law, that is, the co-originality of universality of human rights, pluralism and law, the condition of ontogenetic primacy, independence, self-subsistence and overposition of law in relation to politics and moral, as the subsidiarity of these regarding to law, we will point to the renewal of this systemic, systematic, procedural, mediated, instancial, progressive and publicized perspective of the public system of law, in the interrelation, separation and overposition of judiciary and political system, demarcated by a strong ideal of methodological-procedural-axiological institutionality, legality, technicality, formality and depersonalization, which eradicates the politicization and partisanship of law and, by devolving the complete integrality to law-judiciary, confines the democracy’s political system and civil society to their true limits which are its structural basis: the human rights, the legal process and the public system of law, with the necessity of full translation of politics and moral to law, delimitating the pluralist and universalist democracy as a public system of law oriented to the production of universality in/as/by legality. (shrink)
Resumo: Apresenta-se, neste texto, a perspectiva de uma crítica da modernidade, por parte do pensamento indígena brasileiro, a partir da sua denúncia da modernização como movimento expansivo totalizante que tem, na imbricação de eurocentrismo-colonialismo-racismo e/como fascismo, seu núcleo estruturante e dinamizador. Defende-se a proposta de um pensamento-práxis indígena que oferece uma explicação alternativa da modernização, enquanto guerra de colonização calcada no racismo estrutural e tendo como consequência o etnocídio-genocídio planificado, o qual também propõe um papel epistêmico-político-normativo aos indígenas, por eles (...) e desde suas formas de ser e estar no mundo, a saber, pacificar o branco. Com isso, inverte-se uma tripla lógica da modernidade: a modernidade como uma perspectiva endógena, autorreferencial e autossubsistente; a modernidade como movimento expansivo linear e reto, rumo ao universalismo pós-tradicional - e como universalismo pós-tradicional - via racionalidade cultural-comunicativa; e a modernidade como a condição exclusiva e necessária da crítica da modernização, da crítica do outro da modernidade e do sustento de uma noção universal de direitos humanos, os quais os outros da modernidade não conseguiriam gerar e nem sustentar.: We develop the perspective of a criticism of modernity by Brazilian Indigenous thinking, from its denounce of modernization as an expansive and totalizing movement that has in the imbrication of eurocentrism-colonialism-racism and/as fascism its structuring and streamlining core. We will argue the proposal of an Indigenous thinking-praxis that offers and alternative explanation of modernity as war of colonization based on structural racism and having as consequence the institutional ethnocide-genocide against Indigenous and Blacks; and also that proposes an epistemic-political-normative role to Indigenous since their forms of being in the world, that is, to pacify the White man. Therefore, we have the inversion of a triple logic of modernity: the modernity as an endogenous, self-referential and self-subsistent perspective; the modernity as a lineal and direct expansive movement towards post-traditional universalism - and as post-traditional universalism - from cultural-communicative rationalization; and the modernity as the exclusive and necessary condition for the criticism of modernity, for the criticism of the others of modernity and for the basement of an universal notion of human rights, tasks that the others of modernity cannot generate or sustain. (shrink)
O texto aborda a correlação de democracia, diversidade e educação a partir da condição própria às minorias político-culturais que são efetivamente construídas desde a tríade racismo biológico, fundamentalismo religioso e eurocentrismo-colonialismo, rediviva política e culturalmente pela ascensão do fascismo como eixo estruturante das instituições e da vida sociopolítica brasileira hodierna enquanto consequência e estágio último de nossa modernização conservadora. Nosso problema de investigação pode ser definido com a seguinte pergunta: como é possível desconstruir-se a tríade racismo, fundamentalismo e colonialismo, base (...) de nossa modernização conservadora, a partir da condição, da história e dos valores próprios às minorias político-culturais? Nossa resposta, construída a partir de reflexões fundadas na teoria social e no pensamento negro, indígena e queer, é dupla: minorias político-culturais permitem a pluralização dos sujeitos, das histórias, das experiências, das práticas e dos valores constitutivos de nossa sociedade, desnaturalizando e politizando sua evolução e suas condições presentes; e é necessário que essa consolidação pública, política e cultural das e pelas minorias possa ser institucionalizada em termos de formulação de currículos, conteúdos, práticas e valores próprios à educação básica pública, uma vez que a militância social por elas assumida depende, para sua efetividade, tanto dessa institucionalização a ser assumida pela escola básica pública quanto, a partir daqui, da dinamização de processos educativos que, baseados exatamente na condição e no sentido dessas minorias político-culturais dentro do amplo processo de modernização conservadora brasileira, atinjam nossa coletividade como um todo, moldando uma nova cultura democrática, pluralista, equalizada e reflexiva. (shrink)