Abstract
Este artigo trata de colocar em diálogo as filosofias de Hannah Arendt e Gilbert Simondon no que diz respeito à relação entre a natureza e a cultura. Contemporâneos, mas advindos de tradições distintas, os dois autores elaboraram filosofias preocupadas com a alienação da realidade humana em relação à progressiva transformação tecnológica. Enquanto Hannah Arendt associa o progresso da técnica com o advento do social e, com isso, o esvanecimento da política, Simondon considera que o estágio maquínico da concretização dos objetos técnicos acentua uma crise da capacidade cultural humana de simbolizar a realidade. Diante da mesma crise, mas apontando aspectos diferentes, subjaz às suas respectivas abordagens duas maneiras distintas de pensar a relação entre a natureza e o mundo: se, para Arendt, duas temporalidades distintas circunscrevem os dois domínios, Simondon aponta para uma diferença de complexificação no qual o mesmo processo de individuação se desdobra. A partir disso, os autores divergem sobre o que está sendo perdido na crise contemporânea: Arendt aponta para a política; Simondon, para a cultura.