Abstract
Discute-se a importância da tese do fim da arte, anunciada por Hegel em suas Preleções sobre a estética, como condição de possibilidade para uma reflexão hermenêutico-filosófica sobre a atualidade do belo. Mesmo considerando-se o conjunto de críticas hermenêuticas dirigidas à estética hegeliana, quando se trata de pensar a arte moderna a tese do “ fim da arte” sobressai como paradigmática, seja no que se refere a interpretação das mudanças das configurações artísticas, seja no tocante à sua ressignificação enquanto um acontecimento e experiência de verdade. Ora, mas o que justifica o diálogo de Gadamer com Hegel quando se trata de pensar a atualidade do belo? Em que medida a tese hegeliana do fim da arte, em seu caráter paradigmático, é compatível com a reflexão hermenêutica da arte como experiência que acontece no médium da linguagem e sob a vigilância da efetividade histórica? Se, por um lado, a sentença do “ fim da arte”, ou mesmo caráter pretérito da arte, nos remete a pensar em sua insuficiência enquanto darstellung, convertendo-a em objeto do pensamento, ou mesmo em sua dissolução em favor da religião e da filosofia, o que no idealismo estético hegeliano apenas pode ser entendido no devir histórico da Ideia; por outro, a referida tese possibilita uma reflexão filosófica da arte que, por sua vez, reivindica uma pretensão de verdade diferente da tradicional. Eis porque, na compreensão gadameriana, a tese hegeliana do caráter passado da arte corresponde a uma pré-formulação acerca de nossas questões sobre a arte quando se trata de repensarmos a atualidade do belo. Ressalta-se que o diálogo hermenêutico entre Gadamer e Hegel só é possível pela evidência de uma proximidade a partir da diferença, e pelo reconhecimento de que em ambos o domínio do belo artístico é tomado enquanto uma declaração atualizada de verdade.