Abstract

A filosofia da técnica de Ortega y Gasset, desenvolvida sobretudo em Meditación de la técnica (1933), e, depots, em El mito del hombre allende la técnica (texto alemão de 1951; trad, castelhana de 1952), representa um contributo original para um debate que na primeira metade do século xx se tornou particularmente vivo na Europa. Segundo a autora do artigo, Ortega y Gasset, dialogando virtualmente com Henri Bergson e realmente com Martin Heidegger, está particularmente interessado na dimensão antropológica do problema da técnica. Porém, ao não conceber a possibilidade de se estudar a técnica independentemente de uma consideração do que seja a natureza do ser humano, Ortega y Gasset acaba por se distanciar da inquietude heideggeriana acerca da essência da técnica e revelar ser a sua uma sensibilidade intelectual bem mais próxima de Bergson do que, à primeira vista, se poderia pensar. Veja-se, como exemplo, a importância dada ao papel que uma sociedade aberta tem no desenvolvimento da inteligência humana. De facto, para o pensador espanhol, é a técnica que permite ao ser humano adaptar o meio e, dessa forma, construir para si uma nova natureza, ou seja, uma sobrenatureza humana, o seu verdadeiro mundo. A originalidade de Ortega, de resto, pode também ver-se no modo como evidencia estreita relação que existe entre a técnica e a estrutura do ser humano, especificamente no que se refere à dialéctica entre intimidade e projecto ou, ainda, em relação a importantes questões como as relativas ao sentido do trabalho e/ou dos tempos livres. Para além de tudo isso, porém, o artigo visa explorar o impacto de Ortega y Gasset no âmbito do pensamento italiano dos finais do século xx (1970-1996), pelo que nele se distinguem referências a pensadores como Luciano Pellicani, Gualtiero Cangiotti, Antimo Negri, Lorenzo Infantino, e se faz particular menção de categorias orteguianas como ensimismamiento, imaginação criadora, capacidade de autotranscendência, capacidade simbólica, capacidade de projecto. Ou seja, ao mesmo tempo que se evidencia a visão de Onega y Gasset acerca da especificidade ontológica do ser humano, o artigo aprofunda também o modo como os seus leitores italianos o recepcionam em consonância com o impacto que nele tem o pensamento de autores como Ernst Cassirer, Max Scheler ou Arnold Gehlen, por um lado, e, por outro, demarcam em relação ao estruturalismo de Claude Lévi-Strauss ou ao antihumanismo de Michel Foucault. Ortega y Gasset's philosophy of technology, developed mainly in his work Meditación de la técnica (1933), and, later, in El mito del hombre allende la técnica (German text from 1951; Spanish translation from 1952) represents an original contribution for a debate which, in the first half of the twentieth century, became particularly lively in Europe. According to the article's author, Ortega y Gasset, in virtual dialogue with Henri Bergson and in real dialogue with Martin Heidegger, is particularly interested in the anthropological dimension of the question pertaining to the meaning of technology. But by not conceiving the possibility of studying technology independently of considering what the nature of the human being is, Ortega y Gasset keeps himself away from the Heideggerian inquietude about the essence of technology and reveals that his intellectual sensibility is much nearer Bergson than one could think at first sight. See, for instance, the importance given by Ortega to the role which an open society plays in the development of human intelligence. In fact, to the Spanish thinker, it is technology which enables the human being to adapt the environment and, thus, to construct for himself a new nature, that is, a human supernature, her true world. Moreover, the originality of Ortega can abo be seen in the way in which he points out the close relation existing between technology and the structure of the human being as such, specifically when it comes to the consideration of interaction between intimacy and project or to questions like the ones related to the meaning of labor and free time. The main goal of the article, however, is to explore the impact of Ortega y Gasset in the Italian thought at the end of the twentieth century (1970-1996). Hence the references to authors like Luciano Pellicani, Gualtiero Cangiotti, Antimo Negri, Lorenzo Infantino, as well as the study of categories like ensimismamiento, creativity, self-transcendence, project and symbolic capacity, etc. In other words, the article not only pays special heed to Ortega's vision about the ontological specificity of man, but also studies how the reception of his thinking in Italy was done in consonance both with the impact (positive) of authors like Ernst Cassirer, Max Scheler or Arnold Gehlen, as well as with positions in relation to which a demarcation was asked for, as it was the case with Claude Lévi-Strauss' structuralism or Michel Foucault's anti-humanism