Abstract
Este artigo propõe relacionar as filosofias da história de Kant e de Hegel às bases do pensamento de Foucault, em História da loucura na idade clássica. Buscamos reconhecer, não indícios de uma história cosmopolita ou universal, mas em que medida o pensamento crítico e a filosofia como ciência das essências puras comparecem na inteligibilidade histórica de Foucault. A reunião de uma diversidade de experiências sob o conceito de desatino , fio condutor da obra, sugere uma proximidade com a tradição. Por outro lado, a falta de um critério intrínseco, o qual justifique a referência de tal multiplicidade à alcunha da loucura, faz com que o fio condutor se restrinja a um aspecto negativo e que, positivamente, Foucault estabeleça para seu trabalho um primado empírico, na forma de uma constelação de imagens. O procedimento de História da loucura, que, junto ao interesse pela desrazão, inaugura o privilégio dado pelo filósofo francês à análise das descontinuidades nos leva a reconhecer a razão com base nos casos que solapam aos seus limites, às essências por ela própria discernidas, e com base nas práticas por ela promovidas e justificadas. This article proposes to relate Kant's and Hegel's philosophy of history to the basis of Foucault's History of Madness in the Classical Age. We are not attempting to recognize the presence of a cosmopolitan or universal history, but trying to understand how critical thinking and philosophy as the science of pure essences appear in Foucault's historical intelligibility. The challenge of bringing together a diversity of experiences under the concept of unreason , which is the common thread of the book, suggests an attachment to tradition. However, the absence of an intrinsic criterion justifying the reference of that multiplicity to madness motivates a negative aspect to that concept and, positively, makes Foucault establish for his work an empirical primacy, in the form of a constellation of images. The procedure of the History of Madness that, with its interest in unreason, inaugurates the privilege given by the French philosopher to the analysis of discontinuities, leads us to recognize reason based on cases that escape its limits and the essences discerned by itself