O drama do corpo arrependido em Schopenhauer e Shakespeare
Abstract
Pretende-se, neste trabalho, investigar a natureza, as origens e as consequências do arrependimento e do remorso e seus acordos com a Vontade; que - na filosofia de Schopenhauer - representa o substrato da existência fenomenal. Além disso, o presente artigo visa aproximar o discurso conceitual de Schopenhauer com o discurso dramático de Shakespeare, na tentativa de ultrapassar a dicotomia existente entre a episteme e a práxis. Schopenhauer, defensor da arte como meio imediato e eficaz de contemplação das ideias metafísicas e dos postulados morais, pede emprestado à tragédia moderna os instrumentos necessários para apreender o conteúdo e a forma de um corpo dilacerado pelo arrependimento e pelo remorso. Daí o apelo a Shakespeare e, em especial, ao ciclo trágico das peças de maturidade, donde extraímos a figura exemplar do Rei Lear para compreender até que ponto um corpo é capaz de oscilar entre a nobreza do saber e a miséria das paixões. Por meio do espírito casmurro do velho Lear, poderemos vislumbrar os caminhos palmilhados pelo homem em sua sede de poder e na afirmação ou na negação de sua vontade em favor do que a Vontade, regente-mor, instaura como equilíbrio e justiça eternas