Para uma Historia da Psicologia

Ideação 34:355-374 (jul-dez 2016)
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Abstract

A história da psicologia, tal como aparece em algumas obras (E.G. Boring 1950; M. Reuchlin 1957; P. Fraisse e J. Piaget 1963) ou em capítulos introdutórios de alguns manuais (M. Reuchlin 1977), reflete uma adesão — raramente discutida — a uma concepção internalista. Segundo essa concepção, a psicologia seria animada por uma dinâmica própria, um processo evolutivo totalmente endógeno, e seria independente de fatores externos tais como os domínios religiosos, sociopolíticos e econômicos. Além do mais, os partidários dessa história aceitam ver a psicologia influenciada por disciplinas situadas em suas fronteiras, como a biologia, a fisiologia e, em menor medida, a física. Esses domínios fronteiriços geralmente dizem respeito a objetos psicológicos habitualmente qualificados de inferiores, como reflexos, sensações e percepções, em oposição à linguagem e ao pensamento, qualificados como processos superiores. Esses mesmos domínios fronteiriços engendraram por sua vez subdomínios relativamente autônomos, tais como a psicofísica ou a psicofisiologia. Correlativamente a essa concepção internalista, o desenvolvimento científico é apresentado como um caminho ao estado de psicologia positiva, tal como A. Comte a definiu em 1837 na 45a lição do Curso de Filosofia Positiva. A caminhada até a positividade foi indicada pelo próprio A. Comte: estudo da anátomo-fisiologia do sistema nervoso (a frenologia de Gall lhe parece a esse respeito uma contribuição decisiva), estudos comparados, análise de casos patológicos, estudo dos comportamentos animais e do desenvolvimento individual. Considerando a evolução da psicologia nos últimos cem anos, seríamos tentados a sustentar que ela realizou o projeto positivista. Psicologia diferencial, psicopatologia, etologia animal e psicologia da criança são vários domínios que concorrem para essa realização. Entretanto, esses domínios estão longe de parecerem homogêneos quanto aos métodos empregados e os modelos epistemológicos aos quais se referem. Um exame atento dessas dimensões metodológicas e epistemológicas mostra que se avança, sobretudo, em ordem dispersa.

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Marcio Miotto
Universidade Federal Fluminense

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