Abstract
Como se colocou a questão do tempo no período das origens cristãs? De que forma as primeiras comunidades apreenderam e traduziram os acontecimentos relativos a Jesus através de uma modelação própria da temporalidade? E em que medida, a própria configuração narrativa que a experiência cristã assumiu, determinou uma refiguração da realidade temporal?A fórmula "a plenitude do tempo" (peplerotai o kairòs) surge-nos pela primeira vez no Evangelho de Marcos, um dos escritos primordiais do cristianismo primitivo. Olhando para a direcção que nos aponta o recurso verbal, temos um tempo onde o cumprimento começou, é verdade, mas que prossegue, pois os seus efeitos e repercussões prolongam-se no futuro. A reflexão que a fórmula de Marcos introduz é bem mais interessante que a linear proclamação de uma escatologia final. É preciso compreender não apenas que o tempo se prolongou até o presente, mas sobretudo que um momento privilegiado, um kairòs, acaba de ser atingido pela emergência messiânica.