Abstract
O presente artigo começa por reconhecer que a crítica ao cerne dos pressupostos do Positivismo Lógico acerca da natureza da Ciência começou alguns anos antes do aparecimento da obra de Thomas Kuhn A Estrutura das Revoluções Científicas, obra esta que se haveria de constituir como charneira na Filosofia da Ciência mais recente. Em vez de olhar para a Ciência como uma estrutura proposicional intemporal, Kuhn defende que ela deve ser tratada como um empreendimento essencialmente histórico, no qual a subjectividade humana desempenha um papel fundamental e em que os factores sociais de vario tipo são em certo sentido verdadeiramente constitutivos. Segundo o autor do artigo, grande parte dos escritos em Filosofia da Ciência desde então têm sido devotados ao tratamento das consequências de uma tal mudança de perspectiva. Dois tópicos tradicionais foram particularmente afectados: como se deve agora caracterizar a racionalidade cientifica? De que modo, se for esse efectivamente o caso, poderá o realismo científtco, a crença mais segura da maioria dos cientistas, sobreviver a essa nova ênfase na historicidade do conhecimento cientifico? Objectivo principal do artigo é, portanto, demonstrar de que modo no âmbito da disciplina que é a Filosofia da Ciência um novo desafio emergiu, nomeadamente o de saber até que ponto ela não deveria ser substituída pela Sociologia do conhecimento científico, ou seja, por um modo de pensar em que os factores sociais sejam finalmente determinates tanto na certificação dos dados experienciais como na justificação das teorias. /// The critique of the core assumptions of logical positivism about the nature of Science began years, before the appearance of Kuhn's The Structure of Scientific Revolutions that finally marked the parting of the ways in recent Philosophy of Science. Instead of regarding Science as a timeless propositional framework, Kuhn argued that it should be treated as an essentially historical enterprise, in which human subjectivity plays a crucial role and in which social factors of various sorts are in an important sense constitutive. Much of the writing in the philosophy of science since then has been devoted to working out the consequences of this shift in perspective. Two traditional topics have been particularly affected: how ought scientific rationality now be characterized? How (if at all) can scientific realism, the firm belief of most scientists, survive the new emphasis on historicity? And a new challenge arose to Philosophy of Science itself as a discipline: ought it not be replaced by a Sociology of scientific knowledge that would take social factors to be finally determinative both in the certification of experimental data and in theory assessment?