Abstract
Assinalando o quinto centenário da morte do pintor Sandro Botticelli (1445-1510), homenageia-se aqui a obra deste artista destacado do Renascimento através da relação entre dois dos seus mais importantes quadros e textos de dois autores italianos: Nastagio degli Onesti e Nascimento de Vénus contêm duas representações da mulher, coincidindo tanto no comportamento que dela espera a sociedade renascentista, como nos modelos medievais de Giovanni Boccaccio (1313-1375) e de Francesco Petrarca (1304-1374).O conjunto pictórico Nastagio degli Onesti, baseado em “A terrível visão” (um dos cem contos da obra Decameron, de Boccaccio), pode ser entendido como um veículo de propaganda doutrinária ao serviço de uma ideologia feudal, que propõe a submissão do “objecto” feminino ao sujeito masculino, ao matrimónio e aos mais elevados interesses oligárquicos.O Nascimento de Vénus é, muito provavelmente, o quadro mais famoso de Botticelli. Pintado no auge da sua carreira, procura transpor o cânone estético da Vénus pagã da Antiguidade para a Laura cristã de Petrarca: a mulher, como símbolo da baixa paixão carnal, metamorfoseia-se no mais elevado amor espiritual. Com efeito, a Vénus botticelliana tem a beleza da Laura petrarquista, seguindo ainda o cânone provençal para destacar os seus predicados físicos.