Abstract
Habermas desenvolveu a teoria da ação comunicativa mostrando como os problemas de comunicação entre os falantes podem ser resolvidos a partir da própria autorreferencialidade inerente à linguagem ordinária ou, em casos mais graves, mediante os discursos racionais. Contudo, ele mostrou também que existem formas de comunicação sistematicamente distorcidas como a neurose e a ideologia, nas quais, ao contrário de Wittgenstein,que considerava não existir uma linguagem privada. Tratava-se somente de um mal entendimento sobre o correto funcionamento de nossa linguagem, pois são formas reais da linguagem privada porque a reconstrução linguística da Psicanálise demonstrou que o neurótico, diante de uma situação insustentável da primeira infância, substitui o símbolo reprimido por um símbolo insuspeito que passa a ocupar o seu lugar. Origina o comportamento repetitivo do enfermo, mas que pode ser recordado de maneira constante,o que desmente também o primado que Gadamer atribuiu à hermenêutica. A comunicação sistematicamente distorcida não pode ser superada simplesmente pelo adestramento da habilidade de interpretação a partir do contexto, mas requer a passagem para discursos clínicos em que o paciente deve fazer a experiência da autorreflexão.