Abstract
A permanência da tradição gestual da encadernação, expressa na presença das imagens utilizadas em textos ao longo de séculos, mostram indícios de uma tradição que perdura, mesmo com a adaptação do ensino de um ofício para a formação de trabalhadores para a indústria. Nossa hipótese é que a tradição gestual da encadernação permanece representada em imagens impressas nos manuais utilizados para ensino ainda no século XX, mas seu significado enquanto arte se modifica, ao se configurar como ofício. O objetivo deste estudo é analisar as relações entre o gestual registrado nas imagens e textos da encadernação, percorrendo os caminhos da tradição do ofício nas técnicas utilizadas para a reprodução das imagens, adaptações de texto e na relação texto e imagem, apresentados nas descrições que expressam a tradição do gesto e da oralidade. Para isso analisamos o Manual do Aprendiz Encadernador, de autoria do irmão salesiano Jorge Menegazzi, publicado em 1944, o contexto de sua publicação e a presença salesiana no Brasil. Procuramos analisar também, aspectos do processo que levou a encadernação, uma arte que encerra um saber-fazer, a se tornar um ofício que viria a se ligar à indústria do livro no Brasil. Para isso, considerou-se o lugar da encadernação na classificação de conhecimentos desde o século XVIII, estudando diferentes textos referentes ao seu ensino publicados na França e na Itália, procurando traçar algumas linhas que conduziram a permanência da tradição gestual observadas no Brasil.