Acerca de um velho tema: a existência da filosofia portuguesa

Revista Portuguesa de Filosofia 46 (4):409-429 (1990)
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Abstract

No texto começa-se por recordar a controvérsia em torno da existência da filosofia portuguesa que se sustenta consubstanciar-se na questão: "há ou não filosofias especificamente nacionais, a cada nação corresponde uma filosofia própria?". Para solucionar o problema, seria indispensável fixar de modo indiscutível as noções de filosofia e nação. Não se aceitando a intuição das essências, que daria de modo directo e imediato as referidas noções, e entendendo-se que conceitos verdadeiros só podem surgir fundados num sistema, tentou-se, apenas, formular definições convencionais de filosofia e nação, para estabelecer relações inegáveis entre elas, o que poderia dar um contributo para a problemática das filosofias nacionais, na hipótese de tais definições serem exactas ou, pelo menos, terem encontrado defensores. Considerou-se filosofia uma concepção do mundo racional, e nação uma certa comunidade de homens ligados pela istória e, porventura, por uma linguagem própria. Se a cada nação correspondesse uma filosofia cair-se-ia no relativismo, que é insustentável. Se se perfilhasse o ponto de vista que a filosofia depende da linguagem, logo da nação, a resposta seria que a linguagem expressa o pensamento, não é o pensamento. Assevera-se que uma concepção racional do mundo é sempre universal e que uma certa comunidade é, a fortiori, particular. A relação entre filosofia e nação será pois a do universal com o particular. Não é lícito absorver a filosofia na nação, como se esta fosse o universal concreto, nem dissolver aquela num universal que, nessa altura, seria abstracto. O universal supera o particular, sem o destruir, estando numa relação dialéctica com ele. O universal é, assim, universalização do particular. Por consequência, a filosofia será nacional mas de um "nacional" que se saiba auto-ultrapassar. O momento nacional é somente um momento da filosofia, não a própria filosofia na sua universalidade. /// Le texte commence par rappeler la controverse autor de l'existence de la philosophie portugaise, dont on affirme qu'elle s'identifie avec la question "y a-t-il, ou non, des philosophies spécifiquement nationales? A chaque nation correspond une philosophie propre?". Pour apporter une solution à ce problème, il serait indispensable de fixer de façon indiscutable les notions de philosophies et de nation. Comme on n'accepte pas l'intuition des essences, qui fournirait de façon directe et immédiate les notions mentionnées et comme on pense que de vrais concepts ne peuveunt surgir que fondés en un système, on a seulement essayé de formuler des définitions conventionnelles de philosophie et de nation en vue d'établir des relations irrécusables entre elles, ce qui pourrait constituer un apport pour la problématique des philosophies nationales, dans l'hypothèse que de telles définitions sont exactes ou ont, pour le moins, rencontré des adeptes. On considère la philosophie comme une conception rationnelle du monde et la nation, une certainne communauté d'hommes liés par l'histoire et, en particulier, pour une langue propre. Si à chaque nation correspondait une philosophie, on tomberait dans le relativisme, ce qui est insoutenable. Si l'on partageait le point de vue d'après lequel la philosophie dépend du langage, par suite, de la nation, la réponse serait que le langage exprime la pensée, n'est pas la pensée. On assure qu'une conception rationnelle du monde est toujours universelle et qu'une communauté donnée est particulière. La relation entre philosophie et nation sera donc celle qui existe entre l'universel et le particulier. Il n'est pas licite d'absorber la philosophie dans la nation, comme si celle-ci était l'universel concret, ni dissoudre celle-là dans un universel qui alors serait abstrait. /// Is there or is there not a specifically national philosophy? To each nation is there a corresponding philosophy? To answer these questions, which are certainly pertinent to the controversy concerning the existence of a Portuguese philosophy, one should state clearly what can be meant by philosophy and nation. By eliminating the approach by which one imagines it possible to have immediate and direct intuitions of these notions and by considering that true concepts are those that can be founded within a system, an attempt has been made here to formulate conventional definitions of philosophy and of nation in the hope that these definitions could be conjugated and made more precise. The idea that there be at the same time a rational world and a particular rationality, belonging to a particular community of men bound together by a common history and language, has been judged illusory. If to every nation there were a corresponding philosophy, an unbearable relativism would prevail. If one were to maintain that philosophy depended on language, and thus a nation, then the response would be that while language expresses thought, language is not thought. It is not legitimate to assimilate philosophy to a nation, as if the latter were a concrete universal; in this sense, it would be simply abstract. The universal overcomes the particular without destroying it, for the relationship is dialectical in nature: the universal is thus the universalization of the particular. Therefore, philosophy in national if one considers national as that which is capable of overcoming itself; the national moment is only a moment of philosophy, and not philosophy as such in its universality

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