Abstract
Partindo de alguns textos fundadores do conceito de ‘utopia’, pretendemos pôr em evidência que, no caso de José Saramago, em regra, a procura de uma (im)possível sociedade livre e perfeita assume contornos de tonalidades diversas. O desejo de cenários diferentes daqueles em que vivemos, mais justos e fraternos, não acarreta, necessariamente, a ideia de deslocalização ou de relocalização espacial implicada nas tradicionais utopias. Pelo contrário, cremos que o ideal utópico saramaguiano (numa perspectiva de leitura cuja subjectividade assumimos) supõe uma busca que se traduz num processo de (re)aprendizagem que começa e acaba no próprio ser humano. Para tal, há que acreditar na capacidade e no poder do Homem para lutar contra várias espécies de adversidades, de obstáculos e de violências. Afinal, como disse, em 1997, a Eduardo Sterzi e Jerônimo Teixeira: “Sabemos mais do que julgamos, podemos muito mais do que imaginamos.” No delinear destes percursos de humana aprendizagem verificaremos ainda a presença (aparente) de afinidades com alguns vectores da tradição religiosa que o autor sempre recusou e a aproximação (efectiva) a uma outra dimensão espiritual: a de certos rituais maçónicos.