Abstract
O presente artigo empreende uma reflexão sobre a ressonância política e ética da teoria crítica da tecnologia de Andrew Feenberg, especialmente na prática tecnocientífica biomédica. Referida ressonância ganha destaque no papel exercido pela ativa cidadania técnica no âmbito biomédico. Partindo de uma crítica ao projeto tecnocrático de intervenção paternalista, demonstra-se que abordagem democrática pensada pelo construtivismo crítico da tecnologia de Feenberg orienta criticamente a tradução e a implementação tecnológica de projetos biomédicos socialmente engajados ou enviesados. Para cumprir o exposto serão desenvolvidos dois momentos: No primeiro apresenta a abordagem democrática do construtivismo crítico, dando destaque a teoria da cidadania tecnológica organizada em forma de redes pelas agências e interesses participantes capazes de redefinir, em torno de seus interesses e necessidade sociais, morais e culturais o design técnico. No segundo momento, expõe o exercício da política técnica, fundamentada pelo interesse participante, no âmbito da prática e da tecnologia biomédica, com ênfase na atenção à saúde. Assinala, como destaque nesse ponto da discussão, o conceito de Medicina ciborgue pela qual a noção de sujeito é ressignificada ou desconstruída a partir da relação simbiótica e fluida entre tecnologia, corpo e sociocultural. Desse modo, afastando a concepção de cidadania moderna, situa-se contemporaneamente a indispensável inclusão do exercício da cidadania pelos pacientes na fundamentação dos empreendimentos biomédicos. Conclui-se que a teoria da cidadania tecnológica pensada por Feenberg possibilita uma reflexão ampla e prolífica sobre a implementação de uma política médica que pressupõe a participação ativa da comunidade e um engajamento sócio-ético-político dos profissionais da saúde.